A Team Jorge oferece como produto um exército virtual com milhares de contas falsas nas redes para publicar opiniões com o objetivo de influenciar o maior número possível de pessoas online. Um coletivo de jornalistas de investigação, que contou com a colaboração com a unidade de investigação da Rádio França, revelou que um grupo israelense influenciou dezenas de eleições no mundo, principalmente na África e na Europa.
O consórcio Forbidden Stories realizou a investigação Story Killers, que revela a ação de uma agência de desinformação baseada em Israel.
Por meio de contas falsas nas redes sociais, espionagem e lobby, essa célula de desinformação teria interferido em campanhas eleitorais e referendos, principalmente na África e na Europa.
A empresa, sem existência legal, apelidada pelos jornalistas de Team Jorge, em referência ao pseudônimo de um dos seus dirigentes, Tal Hanan, é constituída por ex-agentes dos serviços secretos israelenses, segundo revelações feita pelo coletivo de jornalistas na quarta-feira (15). Os patrocinadores do grupo não foram identificados.
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Em total impunidade, sem princípios morais, a empresa israelense clandestina opera nos bastidores e oferece seus serviços a quem faz a melhor oferta, relata o correspondente da RFI em Jerusalém, Sami Boukhelifa.
A Team Jorge oferece como produto um verdadeiro exército virtual com milhares de contas falsas nas redes sociais. Graças a um poderoso software, o grupo cria avatares com email, data de nascimento e até número de telefone. Dessa maneira, os sites podem verificar a existência dos perfis falsos sem suspeitar de nada. A missão deles é publicar opiniões com o objetivo de influenciar o maior número possível de pessoas online.
Envolvimento no escândalo da Cambridge Analytica
O Team Jorge já esteve envolvido no escândalo da Cambridge Analytica, empresa acusada, em 2018, de ter analisado grandes volumes de dados para vender ferramentas de influência utilizadas por Donald Trump.
Os três jornalistas da Rádio France e dois meios de comunicação israelenses que conduziram a investigação se fizeram passar por clientes em potencial. “Interviemos em 33 campanhas eleitorais para presidente”, disse a eles a sociedade clandestina israelense. “Dois terços foram na África e 27 foram bem sucedidas", afirmou.
Rachid M’Barki foi afastado da função de âncora da BFMTV
AFP/Fadel Senna
Na Europa, a empresa teria intervindo no referendo, não reconhecido pelo governo espanhol, organizado pelos separatistas catalães em 2017.
Na África, “foi possível confirmar que durante o verão de 2022, com a aproximação das eleições presidenciais no Quênia, Jorge se interessou por contas de pessoas próximas do futuro presidente William Ruto", entre eles Dennis Itumbi e Davis Chirchir, membros da sua equipe de campanha, segundo o site do Forbidden Stories.
Desinformação na BFM TV
O Team Jorge também se infiltrou no interior do canal francês de notícias BFM TV, através de um de seus âncoras: Rachid M’Barki. O grupo transmitiu, por intermédio do apresentador, matérias não validadas pela redação. Assuntos sensíveis, em torno de oligarcas russos, do Saara Ocidental, do Catar ou dos Camarões, eram inseridos no último minuto, conseguindo passar pelo crivo editorial.
Quando a direção da BFM questionou Rachid M'Barki sobre o assunto, o apresentador alegou "uso do livre arbítrio editorial" e mencionou um intermediário chamado Jean-Pierre Duthion. Trata-se de um consultor de comunicação descrito como um “mercenário da desinformação”, que teria recebido encomendas, feitas por outros intermediários, sem conhecer o cliente final. Seu papel era colocar os assuntos nas mãos dos jornalistas.
Esses documentos relativos aos oligarcas russos, ou ao Catar, teriam sido “fornecidos prontos para uso, em nome de clientes estrangeiros”, de acordo com o consórcio investigativo. Uma dessas notas, por exemplo, sobre as dificuldades da indústria náutica em Mônaco desde a imposição de sanções internacionais à Rússia e seus cidadãos, teria o objetivo de criticar a política de sanções dos países europeus.
Rachid M'Barki afirma não ter sido pago para transmitir os assuntos, mas os jornalistas do coletivo investigativo estimam que tal serviço possa render cerca de € 3.000 por cada assunto transmitido.
O jornalista, por sua vez, nega ter participado de qualquer campanha de desinformação e diz que foi enganado. Ele foi afastado pela BFM TV quando o Forbidden Stories alertou o canal sobre o caso, em janeiro.
Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/02/17/empresa-fantasma-israelense-e-acusada-de-ter-usado-redes-sociais-para-influenciar-dezenas-de-eleicoes-no-mundo.ghtml