Foto: ADEM ALTAN / AFP – 23.11.2022
O presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, foi reeleito nesta quarta-feira (19), sem surpresas, para um segundo e último mandato de cinco anos, com o voto de 97,66% dos deputados do Parlamento, informou o chefe da Assembleia Nacional. O presidente recebeu 459 votos a favor dos 462 deputados presentes na sessão legislativa.
Díaz-Canel governa Cuba desde 2018 e é o primeiro civil a assumir as rédeas do país após os mandatos dos irmãos Fidel e Raúl Castro, que detinham o poder desde o triunfo da Revolução em 1959. Engenheiro eletrônico de 62 anos, o sólido quadro instalado no poder pelo fidelismo — termo criado para designar o governo, as ações, políticas, ideologias e posições de Fidel Castro — vai liderar seu segundo governo em um contexto de crise econômica, escassez e descontentamento popular na ilha comunista.
“Tendo em conta os resultados anunciados, declaro eleito o Deputado Miguel Mario Díaz-Canel Bermúdez Presidente da República”, disse Esteban Lazo, presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular, antes da sessão plenária e na presença do líder do Revolução, Raúl Castro.
Em seu tradicional uniforme verde-oliva, Castro parabenizou o presidente com um aperto de mão, que compareceu à reunião de terno azul-escuro.
Na sessão parlamentar, também foi reeleito o vice-presidente da República Salvador Valdés Mesa, de 77 anos e que exerce o cargo desde 2019.
A reunião, a qual apenas a imprensa estatal teve acesso, foi transmitida em partes pela televisão nacional.
Os 462 deputados dos 470 que compõem o parlamento votaram direta e secretamente em um único candidato para cada cargo neste país onde a oposição é ilegal.
No dia, foram renovados 10 dos 21 membros do Conselho de Estado, que constitui a diretiva da assembleia nacional.
A lei estabelece que o presidente, que tem mandato de cinco anos, pode ser reeleito apenas uma vez.
Ao instalar a décima legislatura, a assembleia também reelegeu Esteban Lazo, de 79 anos, que ocupa o cargo desde 2013, como presidente deste parlamento unicameral, bem como Ana María Mari Machado, de 59 anos, como vice-presidente.
Díaz-Canel assumiu em 2018 a tarefa de acelerar a lenta reforma econômica iniciada por seu antecessor e mentor político Raúl Castro, quando começou a atual crise na ilha.
No início de 2021, implementou uma reforma monetária que acabou com a taxa de um dólar por um peso cubano que vigorava há décadas e causava grandes distorções na economia nacional.
Também promoveu o autoemprego e deu luz verde às PME, mas estas medidas revelaram-se insuficientes para melhorar a economia.
O analista político Arturo López-Levy aponta que, embora o governo de Díaz-Canel tenha promovido leis que dão respaldo constitucional ao modelo econômico desenhado desde 2011, “não fez uma transição completa e abrangente para uma economia mista”.
“Algumas mudanças econômicas não aconteceram e outras que aconteceram deixaram muito ceticismo sobre sua implementação”, avalia.
A reforma monetária provocou uma espiral inflacionária e uma forte desvalorização que irritou a população.
A moeda cubana disparou em dois anos de 24 para 120 pesos por dólar à taxa oficial, enquanto no mercado negro é cotada a 185 pesos por moeda.
Cuba vive atualmente sua pior crise econômica em 30 anos, com escassez de alimentos, remédios e combustível, devido ao aperto do embargo norte-americano, em vigor desde 1962, e aos efeitos da pandemia.
Para o adversário Manuel Cuesta, a sua “reeleição” foi “cantada” e ocorre “no meio de uma dupla crise a nível económico: do modelo e dos poderes políticos do Estado a orientar soluções adequadas”.
Uma das “poucas conquistas” atribuíveis a Díaz-Canel foi liderar “a transição para um regime liderado por uma nova geração nascida depois de 1959 que não leva o sobrenome Castro”, considera Jorge Duany, acadêmico da Florida International University.
No entanto, destaca que seu “maior fracasso foi o mau manejo dos protestos” de julho de 2021, os maiores na ilha desde 1959, que deixaram um morto, dezenas de feridos e mais de 1.300 presos, segundo a organização de direitos humanos Cubalex, com sede em em Miami.
Após os protestos houve um êxodo migratório sem precedentes: mais de 300 mil cubanos deixaram a ilha só em 2022.
R7
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