SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O líder chinês, Xi Jinping, anunciou nesta sexta-feira (22) uma nova "relação estratégica bilateral" com o regime sírio comandado por Bashar al-Assad. Esta é a sua primeira visita à China desde 2004, em uma viagem que tem como objetivo romper o isolamento diplomático imposto à ditadura desde o início de sua guerra civil, 12 anos atrás.
"Ante uma situação internacional cheia de instabilidade e incertezas, a China quer continuar trabalhando com a Síria", disse Xi durante reunião com Assad, acrescentando que a amizade entre os dois países havia se fortalecido com o tempo, segundo o canal estatal chinês CCTV.
A tal nova relação estratégica incluiria uma injeção de ânimo na economia síria, devastada pela guerra que se arrasta há mais de uma década e pelo terremoto que em fevereiro provocou mais de 8.000 mortes no país. Xi ainda ofereceu ajuda aos esforços de Assad para conter as agitações internas desencadeadas pelo conflito.
As ofertas não são exatamente altruístas. A China tem buscado conquistar apoio de outros países para enfrentar os EUA na chamada Guerra Fria 2.0. O Oriente Médio é uma região em que ela tem colhido algumas vitórias, como a aproximação diplomática entre os rivais Irã -aliado da Síria- e Arábia Saudita após sete anos de ruptura, mediada por sua chancelaria.
Damasco tem importância estratégica para Pequim em razão de sua localização: está situada entre o Iraque, fornecedor de cerca de um décimo do petróleo consumido pela China; a Turquia, ponto final de corredores econômicos entre a Europa e a Ásia; e a Jordânia, mediadora de disputas no Oriente Médio.
Assad, por sua vez, tem um objetivo duplo: ele quer tanto obter apoio financeiro para reconstruir seu país quanto se reabilitar no cenário internacional -mais de 500 mil pessoas morreram na guerra civil síria, e o massacre promovido pelo ditador contra seus próprios cidadãos fizeram dele um pária internacional. Por causa disso, entre 2011, início do conflito, e 2021, o líder só saiu do país natal para viajar à Rússia e ao Irã, seus dois principais aliados.
Desde o ano passado, o regime sírio conseguiu alguns avanços em sua tentativa de se reinserir no xadrez mundial, primeiro juntando-se à Iniciativa Cinturão e Rota da China e, depois, sendo readmitido na Liga Árabe.
O retorno à organização teve forte significado para Assad. Em novembro de 2011, 18 dos 22 países membros da liga votaram a favor de suspender a ditadura -decisão na épica celebrada por países ocidentais e pela Turquia, mas criticada por Rússia, Irã, Iraque e Líbano. O grupo ainda se juntou a nações como EUA e Canadá, além da União Europeia, e aplicou uma série de sanções contra Damasco.
A volta da Síria à Liga Árabe foi favorecida pela solidariedade internacional após o terremoto em fevereiro. Mas, no plano diplomático, o catalisador foi a reconciliação mediada pela China entre o Irã e a Arábia Saudita -as nações da região veem na readmissão da ditadura uma forma de limitar a influência iraniana.
A China, assim como a Rússia e o Irã, manteve seus laços com o ditador mesmo no auge de seu isolamento diplomático. Agora, assim, espera colher frutos da relação entre os países. "A China está disposta a fortalecer a cooperação com a Síria através da Iniciativa do Cinturão e Rota para fazer contribuições positivas para a paz e o desenvolvimento regional e mundial", disse Xi no encontro com o ditador, que neste sábado participa da abertura dos Jogos Asiáticos em Hangzhou.
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Créditos: Portal R7.