(FOLHAPRESS) - Para 62% dos democratas, outra pessoa que não Joe Biden deveria ser o candidato do partido na eleição presidencial de 2024. A rejeição crescente da base eleitoral ao presidente à medida que o pleito se aproxima finalmente acendeu um sinal de alerta no establishment político.
A situação é oposta à que vive seu provável adversário, Donald Trump. Enquanto o republicano tem uma base firme de apoio dentro do partido, o mesmo não se reflete nas lideranças da sigla.
Até agora, o principal nome que se coloca oficialmente como alternativa a Biden entre os democratas é Robert F. Kennedy Jr. Apesar do sobrenome ilustre, é visto como um outsider do partido devido a suas abertas posições antivacina e defesa de teorias da conspiração.
Mas, à medida que as dúvidas sobre a viabilidade eleitoral do atual presidente aumentam, outros começam a vir a público se colocar à disposição da liderança democrata. Em entrevista veiculada na última segunda (25), o deputado Dean Phillips, de Minnesota, que vinha flertando com a ideia, afirmou que não desistiu da pré-candidatura diante das recentes pesquisas de opinião.
"Estou preocupado que algo possa acontecer entre agora e novembro do próximo ano que transformaria a Convenção Democrata em Chicago em um desastre total. E, para um partido que está agindo como os adultos na sala, graças a Deus, estou preocupado que não estamos agindo da mesma forma em relação à nossa estratégia eleitoral. Então, estou considerando isso [disputar a nomeação]", disse ao podcast The Warning, comandado pelo estrategista político Steve Schmidt.
Mesmo reconhecendo que seria difícil ser bem-sucedido na tentativa, Phillips destacou que há pessoas mais preparadas e com maior visibilidade nacional do que ele para concorrer -um leque que não inclui Biden.
Nas últimas semanas, nomes importantes pediram ao presidente que ele desista da reeleição. Entre eles, o colunista David Ignatius, do jornal americano The Washington Post, que vê na tentativa o risco de Biden desfazer sua principal conquista eleitoral: ter derrotado Donald Trump.
Maureen Dowd, do The New York Times, escreveu que não discorda da opinião do colega. E mais: alertou que o círculo mais próximo do democrata está minando sua imagem mesmo que ao tentar evitar que ele pareça fraco e senil, como pintado por republicanos e reforçado por gafes e momentos de confusão do próprio presidente.
Em público, as lideranças democratas seguem afirmando seu apoio ao ocupante da Casa Branca. Em privado, no entanto, há uma ansiedade crescente com a viabilidade eleitoral de Biden, exposta em reportagens na imprensa que ouviram dezenas de membros do partido sob condição de anonimato.
"É melhor alguém acordar de uma vez nessa porra", disse o estrategista político James Carville, conhecido por sua atuação na campanha de Bill Clinton em 1992. No Brasil, ele também foi consultor de Fernando Henrique Cardoso em 1994.
Em entrevista ao apresentador e comediante Bill Maher, Carville afirmou que se as eleições fossem em novembro deste ano, apostaria que Trump seria o favorito. Para ele, se os democratas disputassem o pleito com um candidato com menos de 60 anos de idade –Biden tem 80–, teriam 55% dos votos
Maher completou: se em 2020 Biden era o único democrata capaz de vencer o republicano, agora ele é o único capaz de ser derrotado por ele.
Pesquisas apontam que a principal fragilidade de Biden é, de fato, a sua idade. Para 59% dos americanos, a capacidade mental e física do democrata exercer um segundo mandato é uma grande preocupação, segundo levantamento da NBC divulgado no domingo. Outra pesquisa, essa da Associated Press-Norc, mostra que 77% da população o vê como velho demais para ser eficiente por mais quatro anos.
A campanha democrata chegou a montar uma estratégia para evitar que Biden tropece em público, como ocorreu em junho em uma imagem que correu o mundo como símbolo de um presidente frágil. Desde então, ele vem usando tênis esportivos e as escadas mais curtas do avião Air Force One, segundo o portal Axios.
Outro ponto fraco de Biden é a economia. Embora o desemprego esteja em níveis historicamente baixos e a inflação esteja desacelerando, a disparada de preços no ano passado ainda pesa no bolso do eleitorado. Republicanos atribuem a culpa aos enormes pacotes de gastos para estimular a economia.
A esses problemas, somam-se ainda as investigações sobre os negócios suspeitos do filho do presidente, Hunter, acusado formalmente por um procurador do Departamento de Justiça, e o processo de impeachment que corre no Congresso –mesmo que com chance ínfima de aprovação.
Em pesquisas de intenção de voto, o presidente ora aparece empatado com Trump, ora aparece atrás dele -levantamento do Washington Post mostrou o democrata nove pontos aquém do republicano, embora o próprio jornal tenha admitido que o resultado é atípico em relação à tendência captada por outros institutos até agora.
O cenário, que já é ruim para Biden, fica pior com a perspectiva de um terceiro nome concorrendo à Presidência -seja do partido Verde, do Libertários ou do No Labels, grupo que tenta emplacar uma chapa bipartidária. Embora nenhum deles tenha chances de vencer o pleito, eles podem tirar votos essenciais para os democratas derrotarem Trump em uma disputa apertada.
A preocupação teria sido levada ao presidente por Hillary Clinton, que perdeu para o republicano em 2016, segundo a NBC. Em encontro com Biden neste mês, ela teria pressionado para que ele leve a ameaça a sério e tenha um plano para lidar com o problema.
Estariam os dois partidos tentando perder a eleição? Essa é a pergunta que o lobista Bruce Mehlman, da Mehlman Consulting, faz em uma análise política divulgada nesta semana.
Além da idade do presidente, o lobista cita como pontos fracos seu alto índice de rejeição -58%, segundo pesquisa de agosto do The Wall Street Journal- e o foco de democratas em temas em que o partido tem posições impopulares, como violência e imigração.
Do lado republicano, os problemas elencados são os processos na Justiça contra Trump, sua rejeição, também em 58%, e a posição do partido sobre o aborto -tema no qual é a vez dos republicanos serem impopulares, como mostraram as eleições de meio de mandato no final do ano passado.
"Trump vence se a eleição for um referendo sobre Biden. Biden vence se for um referendo sobre Trump", sintetiza Mehlman.
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Créditos: Portal R7.