SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump ganhou mais de US$ 1 bilhão (R$ 5 bilhões) mentindo sobre o valor de seus ativos para bancos e seguradoras, afirmou a Procuradoria-Geral do estado de Nova York nesta segunda-feira (2).
Principal nome do Partido Republicano para concorrer à eleição presidencial de 2024, Trump compareceu a um tribunal no centro de Manhattan para mais um julgamento. Desta vez, a procuradora-geral de Nova York, a democrata Letitia James, acusa-o de inflar o valor de seus ativos em bilhões de dólares para obter empréstimos com taxas melhores e seguros mais baratos.
O republicano chegou ao tribunal cercado de uma grande equipe de segurança, saiu do carro sozinho e caminhou, de cabeça baixa, até a corte, acompanhado à distância por seus assessores.
"Esta é a continuação da maior caça às bruxas de todos os tempos" afirmou ele antes de entrar na sala. "Construí uma ótima empresa", continuou, "e agora tenho de comparecer perante um juiz corrupto". O ex-presidente também atacou James, que é negra, ao chamá-la novamente de "racista" e dizer que a democrata quer vingança.
A procuradora se pronunciou minutos antes, na entrada do tribunal. "Donald Trump e os outros réus cometeram fraude persistente e repetidamente. Na semana passada, provamos isso em nosso pedido de julgamento. Hoje, iremos provar nossas outras alegações. Minha mensagem é simples: não importa quão poderoso você seja, não importa quanto dinheiro você possa ter, ninguém está acima da lei", afirmou.
Trump assistiu com os braços cruzados Kevin Wallace, um advogado do gabinete de James, afirmar que as finanças do republicano foram "materialmente imprecisas" durante uma década. A intenção, de acordo com o advogado, era obter condições melhores de empréstimo e contratos de seguro mais baixos.
"Isso não é um acordo comercial normal", disse Wallace. "Esses não são crimes sem vítimas."
Christopher Kise, advogado de Trump, rebateu as acusações e disse que as finanças do republicano eram inteiramente legais.
"É uma das marcas de maior sucesso no mundo, e ele fez fortuna acertando em relação aos investimentos imobiliários", disse Kise. "Não houve intenção de fraudar, não houve ilegalidade, não houve inadimplência, não houve violação, não houve dependência dos bancos, não houve lucros injustos e não houve vítimas."
O julgamento ganhou destaque na semana passada, quando o juiz Arthur Engoron, que preside o caso, entendeu que a procuradora já havia demonstrado que Trump e os executivos de seu grupo haviam superestimado seu patrimônio em até US$ 2,2 bilhões (R$ 11,1 bilhões) de 2014 a 2021.
A suspeita coloca em risco o império econômico da família, embora não represente uma ameaça de prisão. O novo imbróglio jurídico se soma a outras quatro acusações contra o republicano, que até agora não viu os processos afetarem sua popularidade na base do partido.
Trump calculou o valor de seu apartamento na Trump Tower, por exemplo, como se o imóvel tivesse três vezes seu tamanho real, de acordo com o entendimento do juiz. "Uma discrepância dessa ordem de magnitude [...] só pode ser considerada fraude", afirmou Engoron.
A decisão limita o escopo do julgamento desta segunda, que deve se ocupar basicamente das punições que o republicano vai enfrentar.
A procuradora, James, pede que Trump e seus filhos, Donald Jr. e Eric, sejam permanentemente proibidos de administrar negócios em Nova York. Ela também defende a aplicação de multas que somam pelo menos US$ 250 milhões (R$ 1,26 bilhão) e uma restrição de cinco anos às atividades imobiliárias comerciais do republicano e sua principal organização, a Trump Organization.
O processo judicial já começou a respingar nos empreendimentos do político. O juiz Engoron cancelou certificados comerciais de empresas que controlam pilares do império do republicano, incluindo a Trump Tower e seus clubes de golfe em Nova York, e disse que nomearia administradores para supervisionar a dissolução das companhias.
A decisão abrange uma pequena parte das cerca de 500 propriedades na carteira de Trump, mas inclui algumas que são consideradas as mais valiosas.
O julgamento está programado para ocorrer até o início de dezembro. Mais de 150 pessoas, incluindo Trump, estão listadas como testemunhas em potencial, mas grande parte do julgamento provavelmente será uma batalha de especialistas opinando sobre documentos financeiros.
O ex-presidente nega conduta ilícita e acusa James, do Partido Democrata, de perseguição política. Seus advogados afirmam que os bancos que emprestaram dinheiro a Trump dificilmente foram vítimas, já que teriam obtido lucro.
O caso é um dos vários problemas legais que Trump enfrenta enquanto faz campanha para retornar à Casa Branca -o republicano foi o primeiro presidente dos EUA a ser acusado criminalmente enquanto estava no cargo ou após deixá-lo.
Ele foi acusado na Flórida de manipular documentos sigilosos ao deixar o cargo; em Washington e na Geórgia de tentar reverter sua derrota nas eleições presidenciais de 2020; e em Nova York de comprar o silêncio de uma atriz pornô. Trump nega qualquer irregularidade e se declara inocente nos casos.
Assim como o caso relacionado à jornalista Elizabeth Jean Carroll, o julgamento desta segunda é um processo civil, não criminal. Em maio deste ano, jurados de Nova York entenderam que Trump abusou sexualmente de Carroll na década de 1990 e a difamou por chamá-la de mentirosa.
Tais decisões, aliás, não tornam Trump inelegível -os EUA não têm uma lei equivalente à Ficha Limpa, que, no Brasil, impede a candidatura de pessoas que foram condenadas por um órgão colegiado (mais de um juiz), tiveram o mandato cassado ou renunciaram para evitar a cassação.
ENTENDA OS 4 PROCESSOS CRIMINAIS CONTRA TRUMP
Compra de silêncio de atriz pornô
Trump é acusado de ter mandado subornar a atriz pornô Stormy Daniels para que ela não revelasse durante a campanha de 2016 um suposto caso entre os dois
Documentos sigilosos
Após deixar a Casa Branca, Trump teria levado consigo, ilegalmente, documentos sigilosos que tratam da segurança nacional
Invasão do Capitólio
Trump afirmou, sem provas, que a eleição de 2020 foi fraudada e buscou formas de se manter no poder, desrespeitando o resultado das urnas, afirma a acusação
Interferência eleitoral na Geórgia
Trump e aliados teriam se organizado para mudar o resultado da eleição na Geórgia, estado onde o republicado perdeu por uma diferença de apenas 0,02 ponto percentual
Créditos: Portal R7.