(FOLHAPRESS) - O governo da Finlândia elevou o alerta de preparo de defesa do país nesta quarta (11), um dia depois de dizer que os danos a um gasoduto e a um cabo submarino de dados que ligam o país à Estônia foram provavelmente provocados por uma ação externa.
O incidente ocorreu no domingo com o Blaticconnector, sistema inaugurado em 2019 que cruza 77 km sob o mar Báltico no golfo da Finlândia, um braço do corpo de água que vai até a costa de São Petersburgo (Rússia).
A investigação sugere que houve sabotagem, mas ainda não é conclusiva. Os olhos, claro, se voltam para a Rússia, que teve seu megasistema de gasoduto Nord Stream atacado há um ano não muito longe dali, sob o mesmo Báltico.
O Kremlin acusa o Ocidente pela ação e se disse nesta quarta preocupado pelas notícias do sistema Balticconnector, citando semelhanças com o que ocorreu com a sua obra. Já o presidente Vladimir Putin afirmou que "algum Estado" deve estar por trás do suposto ataque.
Já a Otan, clube militar ocidental que a Finlândia integrou em abril passado, abandonando sete décadas de neutralidade devido à Guerra da Ucrânia, afirmou nesta quarta que se for confirmado um ataque à infraestrutura de um de seus membros, haverá "resposta determinada".
"O importante agora é estabelecer o que aconteceu e como pôde acontecer. Se for provado um ataque deliberado, isso será, claro, sério, mas também enfrentado por uma resposta unida e determinada da Otan", afirmou em Bruxelas o secretário-geral da entidade, Jens Stoltenberg.
Por ora, como os estoques de gás natural estão cheios nos dois países ligados pelo Balticconnector, não há risco de desabastecimento. O cabo de comunicação era só de reserva, então não houve disrupção na internet ou outros sistemas. O conserto, dizem as operadoras, deve levar cinco meses.
ZELENSKI FALA EM 'INVERNO DO TERROR' E PEDE ARMAS
Stoltenberg falou a repórteres antes do encontro na Otan com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. Em um momento dificílimo de sua guerra contra a invasão russa iniciada em 2022, ele foi pedir mais armas para o clube ocidental.
O ataque do grupo terrorista Hamas em Israel, no sábado passado (7), complicou ainda mais uma temporada tensa para Zelenski. A atenção do seu principal apoiador, os Estados Unidos, está voltada agora para o principal aliado de Washington no Oriente Médio. Há temor, em Kiev, de que o apoio ocidental mingue.
Isso se dá muito pelo calendário eleitoral: nos EUA, os republicanos ora na oposição já conseguiram tirar da proposta orçamentária de 2024 ajudas à Ucrânia e seu provável candidato, Donald Trump, sugere cessar os gastos -os EUA deram quase metade dos cerca de R$ 500 bilhões que Kiev recebeu até julho.
Na Eslováquia, um partido nacionalista abertamente pró-Rússia ganhou a eleição parlamentar da semana passada e, nesta quarta, formou um governo com o terceiro colocado -que diz ter condicionado seu apoio à manutenção da política externa atual, pró-Ucrânia, mas isso precisa ser testado na prática.
E, no domingo, a Polônia cada vez mais crítica do governo Zelenski vai às urnas, devendo ratificar a permanência do atual partido governante por um inédito terceiro termo. O premiê já disse que vai priorizar o rearmamento do país em detrimento do apoio a Kiev.
Assim, sobrou a Zelenski repetir o mantra de que, sem ajuda do Ocidente, a Europa correrá mais riscos vindos de Moscou. Ele citou que precisa de sistemas antiaéreos para o período frio do Hemisfério Norte, que chamou de "inverno do terror" à frente.
Isso porque, com sua contraofensiva não tendo chegado a lugar nenhum ainda, a mudança climática dificulta operações de lado a lado. E aí os russos, cuja frequência de ataques com mísseis e drones já está em elevação clara, devem iniciar uma nova campanha de bombardeio à rede energética do país, visando deixá-lo o máximo no escuro e sem aquecimento sob temperaturas baixas.
Zelenski ouviu o apoio usual, mas foram os ministros da Defesa dos países que prometeram enviar caças F-16 de seus estoques para ajudar Kiev que veio a realidade. O da Dinamarca disse que só deverá conseguir fornecer os aviões em abril do ano que vem, e o da Bélgica, em 2025.
ALIADO DE PUTIN QUER ENVIAR CRÍTICOS DA GUERRA PARA MINAS
O presidente da Duma, o equivalente à Câmara dos Deputados na Rússia, disse nesta quarta que os russos que deixaram o país em apoio à Ucrânia na guerra deveriam ser condenados por traição e mandados para trabalhar de forma forçada em minas de lugares inóspitos.
Viachelsav Volodin é um aliado firme do presidente Putin, que já chamou de traidores aqueles russos que se opõem à sua guerra na Ucrânia. Estima-se que centenas de milhares de pessoas deixaram o país desde o início da invasão, em 24 de fevereiro do ano passado, mas o próprio governo estimulou a volta de alguns deles -particularmente trabalhadores de setores sensíveis, como TI.
"Essas ações dizem respeito ao artigo 275 do Código Penal, traição do Estado. Nós provavelmente estamos falando sobre minas [para onde enviar os condenados] e temos de achar territórios onde o tempo é mais constante, onde não há verão".
A frase ecoa práticas clássicas da Rússia czarista e soviética, de exilar adversários do governo central em lugares como a longíqua Sibéria, como em torno de Iakutsk, considerada a "cidade mais gelada do mundo".
Créditos: Portal R7.