BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (27) que o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, quer "acabar com a Faixa de Gaza". Segundo o brasileiro, o premiê se esquece que "lá não tem só soldados do Hamas", mas também mulheres e crianças, "que são as grandes vítimas desta guerra."
O chefe do Executivo disse ainda que o grupo Hamas não é terrorista, mas que cometeu um ato terrorista ao atacar Israel no ato que deu início à atual guerra no Oriente Médio. As declarações foram feitas durante um café da manhã com jornalistas que cobrem a Presidência da República no Palácio do Planalto.
"Eu não queria que a imprensa brasileira tivesse dúvida sobre o comportamento do Brasil. Primeiro, o Brasil só reconhece como organização terrorista aquilo que o Conselho de Segurança da ONU reconhece. E o Hamas não é reconhecido pelo Conselho de Segurança da ONU como organização terrorista, porque ele disputou eleições da Faixa de Gaza e ganhou. O que que nós dissemos? É que o ato do Hamas foi terrorista", disse o chefe do Executivo.
Lula defendeu ainda que acabe a possibilidade de veto de cinco países do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Rússia, China e Inglaterra). À frente do conselho no mês de outubro, o Brasil tentou propor um texto para o cessar-fogo no Oriente Médio, mas foi derrotado em razão de um veto dos Estados Unidos.
"Alguém tem que falar em paz. A nota que o Brasil fez e foi aprovada nas Nações Unidas.. Ah, a nota do Brasil foi reprovada. Não, foi aprovada com 12 de 15 votos, duas abstenções, e é por isso que queremos acabar com direto de veto. Achamos que os americanos, os russos, os ingleses, os franceses, os chineses, ninguém deve ter direito de veto. É preciso acabar o direito de veto", disse.
O evento aconteceu na semana em que o mandatário retomou os seus despachos de maneira presencial no palácio, após um período de recuperação das cirurgias a que foi submetido no fim de setembro.
O presidente vinha buscando manter uma retórica de neutralidade em relação ao conflito no Oriente Médio, considerando que o Brasil ocupa no mês de outubro a presidência do Conselho de Segurança e por isso busca articular uma saída para encerrar as hostilidades.
Além disso, o país atua para retirar os brasileiros da zona de guerra. Conseguiu com sucesso repatriar os nacionais que estavam em Israel, com operações envolvendo aviões da Força Aérea Brasileira. No entanto, enfrenta dificuldades, assim como outros países, para retirar os brasileiros que estão na Faixa de Gaza. Isso porque dependem de uma trégua nos ataques israelenses e, principalmente, da abertura da fronteira com o Egito.
Lula prontamente condenou o ataque ao território israelense por ar, água e terra há três semanas, classificando como "ato terrorista". No entanto, não havia mencionado o grupo terrorista Hamas em sua primeira manifestação.
Seu governo vinha sendo cobrado a considerar o Hamas como uma organização terrorista, mas os interlocutores do governo apontavam que o Brasil segue a classificação do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Na sexta-feira (20), pela primeira vez, o presidente pela primeira vez relacionou o Hamas com o conceito de terrorismo. Por outro lado, o presidente vem criticando abertamente a reação de Israel.
"Hoje quando o programa [Bolsa Família] completa 20 anos, fico lembrando que 1.500 crianças já morreram na Faixa de Gaza", afirmou Lula, na ocasião, em vídeo, em referência ao balanço de 1.524 mortes divulgado pelo Ministério da Saúde de Gaza.
"[Crianças] Que não pediram para o Hamas fazer o ato de loucura que fez, de terrorismo, atacando Israel, mas também não pediram que Israel reagisse de forma insana e as matasse. Exatamente aqueles que não têm nada a ver com a guerra, que só querem viver, brincar, que não tiveram direito de ser crianças."
Nesta terça-feira (24), o presidente voltou a criticar Israel durante a sua transmissão ao vivo, o Conversa com o Presidente.
"Não é porque o Hamas cometeu ato terrorista contra Israel que Israel tem que matar milhões de inocentes. Não é possível que as pessoas não tenham sensibilidade. Se a ONU tivesse força, a ONU poderia ter uma interferência maior. Os Estados Unidos poderiam ter uma interferência maior. Mas as pessoas não querem, as pessoas querem guerra", afirmou o petista.
Créditos: Portal R7.