FERNANDA EZABELLA
LOS ANGELES, EUA (FOLHAPRESS) - No alto deserto aos pés das montanhas do Colorado, 322 presos vivem isolados em pequenas celas de 3,5 metros por 2 metros. Eles são considerados os homens mais violentos do sistema penitenciário dos EUA.
O local já foi classificado com um inferno por um diretor que trabalhou por lá por três anos como o inferno. Chamada de ADX Florence, ela é considerada a prisão de segurança mais alta do país e fica em Florence, cidade com menos de 4.000 habitantes a 160 km de Denver.
Já uma advogada que representou presidiários do complexo diz que há relatórios sobre as condições de Guantánamo (prisão militar americana em Cuba) que são melhores que as da ADX (sigla em inglês para "facilidade administrativa máxima").
Construída em 1994 com US$ 60 milhões (R$ 300 milhões), a ADX Florence se diferencia de outras prisões de segurança máxima no país por ter sido desenhada com o objetivo de confinamento solitário. A prática chegou a ser banida no final do século 19, mas voltou nos anos 1980 e hoje é uma das convenções para detentos considerados extremamente violentos ou com risco de fuga.
O uso de prisões de segurança máxima voltou a chamar a atenção no Brasil depois que dois presos fugiram de um presídio do tipo em Mossoró (RN). Esta foi a primeira vez que isso aconteceu no país.
Nos EUA, essa modalidade é comum. A população carcerária americana é uma das maiores do mundo, estimada entre 1,3 milhão e 2 milhões de presos, dependendo da fonte. Cerca de 18% estão em 376 presídios de segurança alta ou máxima, um termo que varia de nome conforme a administração (federal, estadual ou privada).
ADX Florence é gerenciada pelo governo federal, que cuida de outras 14 prisões de alta segurança em dez estados. Há complexos em áreas metropolitanas, como em Atlanta (Geórgia), cercado por prédios residenciais e comerciais, mas a maioria fica em áreas rurais remotas.
Conhecida como Supermax, a ADX foi apelidada de Alcatraz das Montanhas Rochosas, embora ninguém tenha conseguido escapar, como aconteceu na infame prisão na ilha da Baía de San Francisco (Califórnia). Em 1962, três presidiários fugiram num bote inflável e nunca mais foram encontrados. O local fechou em 1963 e hoje funciona como museu.
Se a Alcatraz original recebeu Al Capone e outros gângsteres notórios, agora é Florence quem recebe os criminosos considerados mais perigosos do país. Estão lá o traficante mexicano Joaquín "El Chapo" Guzmán, o terrorista da Maratona de Boston Dzhokhar A. Tsarnaev, espiões americanos e membros da Al-Qaeda ligados aos ataques de 11 de Setembro.
A maioria dos detentos passa 23 horas em suas celas e, muitas vezes, fica dias sem trocar uma palavra. As solitárias são à prova de som para evitar a comunicação entre os presos e possuem apenas uma janela de cerca de um metro de altura e dez centímetros de largura. Há uma privada com pia acoplada, chuveiro e um conjunto de cama, mesa e banco feitos de concreto, com colchonete e cobertor.
Eles contam com uma televisão, usada como barganha no caso de mal comportamento. Alguns têm acesso a livros e podem se exercitar uma hora por dia em pequenos espaços sem janelas com uma barra fixa.
Entre os aparatos de segurança, estão detectores de movimento, câmeras e portas controladas por uma central que monitora os presidiários 24 horas por dia. Eles só podem se comunicar com visitantes (família próxima e advogados) através de uma divisória de vidro e telefone.
Ainda que ninguém tenha conseguido fugir da ADX, ao menos oito já cometeram suicídio.
Laura Rovner, professora de direito da Universidade de Denver, representou dez prisioneiros do complexo, incluindo Thomas Silverstein, que está na solitária há mais de 35 anos (desde 2005 em Florence). Ele foi condenado por roubo a mão armada aos 19 anos e matou dois presos e um guarda, aumentando sua pena para prisão perpétua sem liberdade condicional.
"O governo dos EUA condena tortura em outros países, mas faz tortura aqui também. É chamado confinamento solitário", disse Rovner, citando uma série de impactos mentais e físicos em longos períodos de isolamento, como deterioração da visão, cordas vocais e estado psicológico. "Construída com tecnologia de ponta, a ADX aperfeiçoou essa prática."
Outras prisões de segurança máxima também se utilizam da prática. Em meados de 2019, segundo dados do governo, mais de 75 mil presos estavam em "alojamento restritivo", definido como confinamento em cela por pelo menos 22 horas por dia.
Há locais que misturam isolamento com trabalho, às vezes sem pagamento ou com salários extremamente baixos. Um exemplo é a Penitenciária de Louisiana, prisão de segurança máxima com a maior população do país, cerca de 6.000 prisioneiros (quatro em cada cinco cumpre prisão perpétua).
O complexo estadual de 18 mil acres é conhecido como Angola devido à antiga plantação que ocupava o local, chamado assim por conta dos escravos angolanos.
Os presos trabalham em diversas plantações, criam cavalos e cuidam de gado, vendidos em mercado de carne e distribuídos para grandes marcas. A prisão guarda um passado tenebroso de violência, rebeliões e exploração sexual, com mais de 900 incidentes de ataques entre detentos e contra guardas num único ano, em 1995.
Angola também possui um estádio para 10 mil visitantes para um rodeio protagonizado pelos próprios detentos que acontece anualmente desde 1965, junto com uma feira onde eles podem vender seus trabalhos de arte e marcenaria.
Em 2013, dois prisioneiros fugiram e foram recapturados horas depois. Eles levavam grande quantidade de pimenta para tentar confundir os cachorros e 30 sacos de amendoim para consumo próprio.
Outras tentativas de fugas aconteceram mais recentemente em outras prisões de segurança alta. Em 2015, David Sweat e Richard W. Matt escaparam da Clinton Correctional Facility, em Dannemora (Nova York), fazendo buracos em suas celas e em encanamentos com ajuda de ferramentas dadas por uma funcionária do complexo.
Após semanas de buscas, Matt acabou morto a tiros, e Sweat foi recapturado.
Em 2020, James Newman e Thomas Deering fugiram da Columbia Correctional Institution, em Portage (Wisconsin), com ajuda de um funcionário. Eles foram encontrados no dia seguinte num abrigo para sem-tetos procurando por comida e roupas.Prisões nos EUA
Dados de 2019 publicados em 2021 pelo Departamento de Justiça dos EUATotal de prisões nos EUA: 1.677
111 operadas por uma agência do governo federal
1.155 operadas por autoridades estaduais
411 operadas por empresas privadasPrisões de segurança máxima
Total: 376
Públicas (federais e estaduais): 367
Privadas: 9Porcentagem de prisões de segurança máxima
35% das prisões públicas (federais e estaduais)
11% das privadasPopulação carcerária total: 1.360.634
- 18% dos presos estão em prisões de segurança máxima ou alta
- 75.505 dos presos estão em "alojamento restritivo", definido como confinamento em cela por pelo menos 22 horas por dia
Fonte: https://bjs.ojp.gov/content/pub/pdf/csfacf19st.pdf
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Créditos: Portal R7.