MOSCOU, RÚSSIA (FOLHAPRESS) - Revigorado politicamente pela vitória avassaladora de Vladimir Putin na eleição presidencial russa, o Kremlin rejeitou nesta segunda (18) as críticas de que o pleito foi uma farsa fraudulenta e confirmou um novo objetivo na Guerra da Ucrânia.
Opositores espalhados no exílio e governos ocidentais consideraram os 87,3% amealhados por Putin mera pantomima. A Comissão Eleitoral Central confirmou a porcentagem durante a tarde, no horário local. Os outros três candidatos, que não desafiaram abertamente Putin, tiveram 4,3%, 3,6% e 3,2% dos votos.
A Casa Branca disse que a votação, marcada por protestos silenciosos, não foi nem justa nem livre. A Alemanha e outros países europeus não reconheceram seu resultado.
"Tais avaliações são esperadas e previsíveis, dado que na prática os EUA são um país profundamente envolvido na guerra na Ucrânia. Este é um país que, de fato, está em guerra conosco", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, emulando uma formulação do chanceler Serguei Lavrov de novembro passado.
Falando a jornalistas no exterior, o grupo Golos (vozes), um tradicional monitor de transparência eleitoral que opera semi-ilegalmente hoje, ratificou a ideia de que as eleições ocorreram "sob intimidação".
O embate retórico já havia começado no discurso e entrevista pós-vitória de Putin, na virada da madrugada em Moscou. Mas, ao dar foco na questão militar, o presidente sugeriu uma nova necessidade do conflito: ocupar áreas ucranianas para evitar que sirvam de base de lançamento de mísseis contra o sul russo.
Na semana que antecedeu o pleito de três dias encerrado no domingo (17), Kiev passou a apostar numa renovada campanha contra a região de Belgorodo, cuja capital homônima é alvo de bombardeios diários. Já morreram 11 russos, 2 nesta segunda (18).
Além disso, as forças de Volodimir Zelenski têm lançado ataques de drones que já atingiram, só nos últimos dias, seis refinarias de petróleo. O governo russo passou recibo sobre a situação, chamando-a de inaceitável principalmente para a população da região de Belgorodo, que também viu incursões de grupos russos baseados na Ucrânia -chamados de traidores neonazistas por Putin.
Ele falou em uma zona-tampão na fronteira. Peskov confirmou que isso é necessário. "Medidas têm de ser tomadas para proteger esses territórios, e isso só pode ocorrer criando algum tipo de tampão que deixe fora de alcance qualquer meio que o inimigo tenha para nos atingir", disse.
Isso implicaria invadir e controlar talvez 100 km para dentro do território ucraniano na região norte e nordeste do país. O prêmio mais valioso por lá, a segunda maior cidade do país, Kharkiv, é vista largamente na elite moscovita como uma cidade russa, assim como Odessa, porto no sul que também parece na mira futura de Putin.
Diversos analistas, ocidentais e russos, dizem que o cenário está colocado para Moscou tentar uma ofensiva de verão do Hemisfério Norte, em junho, dadas as condições favoráveis em campo e as dificuldades com o fornecimento de armas a Kiev.
Resta saber se Putin tem tais condições militares. Observadores dizem que o ritmo de perdas de soldados para a conquista da estratégica Avdiivka, no mês passado, em Donetsk (leste), não tem como ser sustentado em uma ação maior sem um novo recrutamento.
Putin teve um soluço em sua alta aprovação desde a invasão, em 2022, justamente quando convocou 320 mil reservistas para mitigar a falta de mão de obra nas frentes de batalha. Até sua eleição, não tocou no assunto, mas não falta quem especule que agora isso pode ocorrer de novo.
Do lado ucraniano, Kiev disse que abateu 17 de 22 drones lançados durante a noite pelos russos. Em Kharkiv, um deles atingiu um quartel do corpo de bombeiros, deixando ao menos um ferido. Nesta segunda (18), o foco militar e nacionalista será renovado com a presença do líder em um evento para celebrar os dez anos da anexação da Crimeia, na praça Vermelha.
No mais, Peskov aproveitou para criticar a viúva do opositor Alexei Navalni, morto no mês passado na cadeia em que cumpria 30 anos e meio de prisão. Iulia Navalnia havia participado do protesto de formação de filas ao meio-dia da eleição em Berlim e disse que o pleito era ilegítimo.
"Há muita gente que rompeu totalmente com sua pátria. Essa Iulia Navalnaia que você [o jornalista que questionou] menciona está se movendo cada vez mais para esse campo. Eles perderam as raízes, laços com a pátria, o entendimento dela e pararam de tomar o pulso de seu país", afirmou.
Iulia permaneceu na Alemanha após Navalni voltar de um tratamento para o envenenamento que sofreu na Sibéria no fim de 2020. Em janeiro de 2021, ele voltou, foi preso por violar uma condicional anterior e só saiu da cadeia morto.
Créditos: Portal R7.