Mesmo obtendo o maior número de assentos no turno final das eleições parlamentares, a aliança política do presidente francês Emmanuel Macron perdeu neste domingo, 19, sua maioria parlamentar, conforme indicam projeções. O resultado preliminar, baseado em dados parciais, aponta que os candidatos de Macron ganharam entre 200 e 250 assentos, muito menos do que os 289 necessários para ter maioria na Assembleia Nacional, a mais poderosa casa do Parlamento francês. Agências de pesquisa previam, inicialmente, que os centristas de Macron poderiam ganhar de 255 a até mais de 300 cadeiras. Se as projeções se confirmarem, a nova configuração política deve dificultar a atuação de Macron. Uma nova coalizão composta pela extrema esquerda, socialistas e membros do partido Verde tende a se tornar a principal força de oposição, com 150 a 200 assentos. Já para o partido de extrema-direita Rally Nacional, de Marine Le Pen, vice-campeã nas eleições presidenciais, a perspectiva é de conquistar mais de 80 assentos, dez vezes mais que os oito anteriores.
Os eleitores franceses foram às urnas neste domingo para eleger os 577 membros da Assembleia nacional, escolha que sinalizará quanto espaço o partido de Macron terá para implementar uma ambiciosa agenda doméstica. Após a reeleição do presidente em maio, sua coalizão centrista busca uma maioria parlamentar que permita a implementação de promessas de campanha, como cortes de impostos e aumento da idade mínima de aposentadoria de 62 para 65 anos. Na primeira votação, na semana passada, a esquerda, sob a liderança de Jean-Luc Melenchon, mostrou-se surpreendentemente forte, provocando agitação entre os aliados de Macron. O temor é de que um forte resultado para a coalizão de Melenchon neste domingo possa fazer de Macron um líder de segundo mandato amarrado, que passa seu tempo negociando com políticos e com grandes limitações em sua capacidade de governar.
Para Martin Quencez, analista político do Fundo Marshall Alemão dos Estados Unidos, se Macron não conseguir a maioria, isso não afetará simplesmente a política doméstica da França, como poderá ter reflexos em toda a Europa. Se perder a maioria, “ele precisará estar mais envolvido na política doméstica nos próximos cinco anos do que estava anteriormente, poderíamos esperar que ele tenha menos capital político para investir em nível europeu ou internacional… isso pode ter um impacto para a política europeia como um todo nos assuntos europeus”, disse Quencez. As eleições parlamentares foram marcadas pela apatia dos eleitores. Mais da metade do eleitorado ficou em casa no primeiro turno e, no segundo, a participação chegava a 38% no às 17h (horário local), porcentual ainda mais baixo do que na primeira votação.
*Com informações do Estadão Conteúdo.