A crise geopolítica entre Estados Unidos e China, duas maiores superpotências do mundo, aumenta com a visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan, território envolvido em controvérsias com o regime chinês. Nancy é a segunda na linha sucessória presidencial, abaixo apenas da vice-presidente Kamala Harris. Segundo o professor de direito internacional da FMU, Manuel Furriela, o aumento da tensão geopolítica entre as duas maiores superpotências do planeta não deverá escalar até um conflito armado, já que uma guerra não é de interesse de nenhum dos dois países. Ainda assim, a visita cumpre um papel de fortalecer a imagem do partido democrático e do presidente Joe Biden diante do fortalecimento da China no contexto global. “Eu não acredito que haja uma escalada em termos de um conflito armado. Acho que não vai chegar a esse ponto. Não é algo desejado por ninguém. Mas temos algo em relação ao próprio momento da China. Há 25 anos, houve uma visita semelhante, mas a China não era a mesma. Ela era um país com um franco crescimento econômico, com grandes perspectivas, mas ninguém imaginava que ela chegaria ao que ela é agora, uma economia gigantesca, muito superior a da Alemanha e do Japão, que são as economias que vem em terceiro e quarto lugar”, comentou o professor em entrevista ao Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta quarta-feira, 3.
Sobre a visita de Nancy Pelosi em si, Furriela disse acreditar que ela cumpra um papel de fortalecimento da imagem do partido democrata e do presidente Joe Biden em um contexto em que nao há uma agenda claramente definida de ações para lidar com o crescimento da China, incluindo a possibilidade dela ultrapassar o PIB americano.”A China tem agora um papel econômico que talvez não condiz com aquilo que ela deve ser politicamente, em termos de política internacional. Agora, ela entra numa nova agenda. Veja que ela recebeu muito bem a Rússia nesse conflito com a Ucrânia. É a única grande potência que não aplicou sanções econômicas à Rússia. Acredito que essa visita traz uma série de sinais: busca fortalecer, sim, o partido democrata; busca fortalecer Joe Biden numa posição crítica em relação à China, já que ele não tem uma agenda clara de como lidar com esse crescente poderio. Essa visita mostra uma medida de retórica internacional interessante. Tem esse papel. E envolve ainda uma questão pontual, o mundo como a Nancy vê”, diz o especialista.
Furriela abordou um pouco sobre a deputada, que hoje lidera o legislativo americano, e indicou que a viagem tem, para ela, uma relação de interesse pessoal ligado à sua visão de política internacional. “Ela tem uma pauta pessoal muito arraigada naqueles políticos dos anos 1990 dos Estados Unidos, que buscavam implementar a democracia internacional, os valores de fundação dos Estados Unidos. Ela tem mais de 80 anos, é uma política antiga e esteve na China logo após o massacre da praça da Paz Celestial. Então ela é muito ligada a pautas internacionais americanas tradicionais. Em específico em relação à China, ela já era muito crítica ao governo chinês há tantos anos atrás. Tem todo um simbolismo esse visita dela. Ela já havia organizado isso para abril, mas por ter contraído Covid-19 acabou adiando, que faz parte de uma agenda permanente dela. Agora que ela ocupa um cargo tão elevado, a representante do poder Legislativo americano, ela obviamente iria aproveitar para fazer essa visita. O governo americano, apesar de não fazer uma declaração enfática de apoio, tem um apreço por esse tipo de visita, já que Joe Biden também é ligado a esses valores mais tradicionais americanos, entendendo que os Estados Unidos têm um papel internacional de levar valores democráticos para o mundo inteiro. Mas ele buscou agora um discurso mais ameno, evitando atrito com a China, já que há uma relação ambígua, os EUA não reconhecem Taiwan como país, como Estado independente, têm acordo importantes, inclusive um deles, pouco mencionado, obrigado os Estados Unidos a defender Taiwan caso aja uma invasão da China Continental. Então, agora o discurso é buscar amenizar um pouco, pelo menos por parte de Joe Biden, do poder Executivo, sabendo que é uma pauta de atrito a visita, agora que a China é uma potência, a segunda maior economia do mundo, recebendo a visita de uma representante tão elevada no Estado de um país como os Estados Unidos traria algum tipo de atrito. É um bate-assopra que temos agora neste momento”, pontuou Furriela.