Após o desaparecimento de um jovem de 18 anos, da localização de seu corpo em açude na zona rural de São Gabriel (Fronteira-Oeste) e da prisão preventiva de três brigadianos supostamente envolvidos no incidente, prosseguem as investigações do caso. As hipóteses consideradas incluem homicídio doloso ou culposo com dolo eventual.
São duas apurações desenvolvidas em paralelo, mas com intercâmbio de informações. Uma avança no âmbito da Polícia Civil e a outra na Brigada Militar (BM). O andamento dos trabalhos é acompanhado por órgãos como o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) e a seccional gaúcha da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS).
A apuração está centrada em aspectos como o papel desempenhado por um sargento e dois soldados da corporação, bem como a dinâmica dos fatos que culminaram no sumiço e morte de Gabriel Marques Cavalheiro.
Morador de Guaíba (Região Carbonífera), o recruta havia se mudado no começo do mês na cidade da Fronteira-Oeste, onde residem parentes e a qual havia escolhido para cumprir do serviço militar – que nem chegou a ser iniciado.
Na madrugada do dia 13 de agosto (sábado), o rapaz se aproximou do portão de uma casa próxima à do familiar onde estava hospedado. Ele se dizia perdido e sua presença – denunciada pelo latido de cães – assustou a dona do imóvel, que não o conhecia e acabou acionando o telefone 190.
Uma viatura da BM com três policiais atendeu à ocorrência, gravada com telefone celular por uma testemunha. Supostamente alterado, Gabriel teria resistido à abordagem e acabou agredido, algemado e retirado do local a bordo do veículo, rumo a uma área da zona rural da 2 quilômetros dali. Nunca mais seria visto com vida.
Questionados, os brigadianos alegaram que o próprio rapaz havia pedido para ser deixado na localidade de Lava Pé, onde há um açude. O sistema de monitoramento via GPS comprovou que a viatura permaneceu nesse ponto por quase 2 minutos.
A atitude do trio levantou desconfianças por parte da Corregedoria da BM, já que o protocolo para esse tipo de incidente é levar o indivíduo sob custódia é a condução para serviço médico ou Delegacia de Polícia. Familiares do recruta também chamaram a atenção para o fato de que ele dificilmente saberia indicar onde fica Lava Pé, por ainda não conhecer direito o município onde recém chegara.
Os envolvidos foram então retirados da atividade nas ruas, enquanto buscas eram realizadas. Na sexta-feira (19), bombeiros encontraram o corpo de Gabriel submerso no açude. Em seguida, o trio de brigadianos foi preso e teve armas e celulares recolhidos para análise pericial, antes de serem transferidos para uma cadeia militar em Porto Alegre.
Lacunas a serem preenchidas
O exame necropsial e a coleta de amostras de material da vítima servirão de base para um laudo que deve ser concluído e divulgado em até 30 dias. Informações preliminares indicam que não havia sinais aparentes de violência no corpo de Gabriel, mas a causa da morte só poderá ser determinada pelos técnicos do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Também está sendo checada a possibilidade de que o rapaz estivesse sob efeito de álcool ou outra droga, já que antes de ser detido ele havia sido visto em um bar, comprando “corote” (bebida à base de aguardente e bastante popular entre os jovens).
Outra questão-chave a ser esclarecida diz respeito ao que aconteceu na localidade de Lava Pé, ou mesmo durante o trajeto. Gabriel foi espancado? Executado? Sofrido afogamento após ficar à própria sorte em local desabitado e sem iluminação?
(Marcello Campos)