Levantamento realizado pela Câmara dos Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA) aponta que o índice de pessoas físicas com algum tipo de limitação em crédito, cheque ou protesto cresceu 29,5% no Rio Grande do Sul em setembro de 2022. Em Porto Alegre, a proporção de consumidores nessa situação foi de 31,8%. Ambos os resultados são os maiores desde fevereiro e superaram mais uma vez a média nacional (29,1%).
Em relação às demais unidades federativas do País, o Estado ocupa a 15ª posição nesse quesito. Estimativas da entidade indicam que a população adulta (18 anos em diante) “negativada” alcança 2,64 milhões entre os gaúchos e 370,8 mil na Capital. Em relação ao mês anterior, 17,9 mil gaúchos passaram a integrar o grupo – 2,3 mil são porto-alegrenses.
Análise econômica
De acordo com o economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, os prognósticos apontam para a desaceleração do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a partir de movimento iniciado em agosto. “Convém lembrar que a recuperação consistente do mercado de trabalho [e, mais recentemente, da massa de salários corrigida pela inflação], assim como o fortalecimento das transferências oriundas do governo, não foram suficientes para conter as altas no indicador”.
Ele também aponta que o endividamento das famílias brasileiras em relação à renda gerada nos últimos 12 meses (53,1%) e os respectivos comprometimentos dos seus orçamentos com o serviço da dívida (28,6%) estão em patamares elevados, conforme o Banco Central: “Tal fato funciona como um impeditivo para a melhora dos balanços financeiros dos consumidores”.
Além disso, os agentes econômicos vêm reduzindo a poupança acumulada desde o começo da pandemia, formada a partir do Auxílio Emergencial em 2020 e 2021, do comportamento previdente em um cenário incerto (responsável pela queda dos gastos) e da carência concedida pelos bancos no ápice do distanciamento social e da crise. “O encolhimento do referido colchão de liquidez, portanto, é igualmente desfavorável”, complementa.
Futuro próximo
Sobre a tendência da inadimplência para os próximos meses, o economista-chefe conclui que os exercícios elaborados pelo Sicredi evidenciam que a política monetária impacta de forma defasada sobre os débitos em atraso, de modo que o efeito ocorre majoritariamente de três a quatro trimestres após as deliberações do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central:
“Ou seja, mesmo com a estabilidade projetada para os juros até maio de 2023, a inadimplência provavelmente continuará subindo, refletindo ainda o ciclo de aumento da Selic [taxa básica de juros] conduzido pelo colegiado até pouco tempo atrás”.
Intitulado “Indicador de Inadimplência da CDL POA”, o estudo é elaborado pelo Núcleo Econômico da Entidade e mede mensalmente a inadimplência dos consumidores do Rio Grande do Sul e de Porto Alegre. O levantamento foi iniciado em fevereiro de 2022 e mostra a parcela de pessoas físicas com algum tipo de restrição a crédito, cheque ou protesto.
(Marcello Campos)