Pesquisa realizada por três especialistas da Secretaria Estadual da Saúde (SES) aponta para transmissão da varíola dos macacos por meio de superfícies, forma de contágio considerada rara até então pelo meio acadêmico. As conclusões serão publicadas em revista científica internacional e indicam a necessidade de reforço a medidas de proteção dos profissionais que tratam de pacientes da doença.
Os autores são Letícia Ikeda, Regina Bones Barcellos e Richard Steiner Salvato. Segundo eles, o estudo se deu a partir da infecção de duas enfermeiras, que desenvolveram a “monkeypox” cinco dias após visita domiciliar a um indivíduo para coleta de material e diagnóstico.
Conforme Salvato, os cuidados adotados no atendimento estavam de acordo com normas estabelecidas, que indicam o uso de luvas no momento da coleta da amostra. O coautor do estudo detalha:
“Assim que as enfermeiras tiveram o diagnóstico de monkeypox confirmado, o sequenciamento genético do vírus presente tanto em uma delas quanto no paciente mostrou se tratar do mesmo material genético”.
Também foi feita uma entrevista epidemiológica com as profissionais, tentando reconstruir o trajeto delas desde a chegada ao local e à interação com o infectado.
A conclusão apontada é que as enfermeiras podem ter se contaminado pelo contato com superfícies infectadas na residência do paciente, que estava no pico de transmissão viral.
Há, também, a possibilidade de as profissionais de saúde terem se contaminado ao manusear a caixa de transporte das amostras, inicialmente com luvas (infectadas) e depois sem luvas.
Regina, por sua vez, chama a atenção para a relevância desse achado científico, ao mostrar que a possibilidade de transmissão do vírus por contato com superfícies contaminadas não é tão rara como se imaginava.
E que esse pode ser inclusive um fator para aumento da transmissão da doença em ambientes hospitalares ou entre contactantes de familiares infectados pelo vírus: “Os resultados levantam um alerta para essa via de transmissão e recomendam cuidados para minimizar os riscos”.
Recomendação
Os autores recomendam medidas de prevenção e bloqueio dessa rota de transmissão, que envolvem treinamento específico para essa coleta, implementação de medidas de controle, higienização frequente das mãos e utilização correta de equipamento de proteção individual (EPI).
O uso das luvas é recomendado durante todo o período de visita a pacientes, contato com pessoas suspeitas de estarem infectadas e com seu ambiente/objetos de uso pessoal.
A higienização das superfícies com desinfetante efetivo contra outros patógenos (norovírus, rotavírus, adenovírus etc.), antes e depois da interação com casos suspeitos, bem como a vacinação dos grupos de alto risco, incluindo os profissionais de saúde que atuam na linha de frente da doença, são outras medidas apontadas pelo trio.
Nesta semana, o grupo apresentou o trabalho em seminário on-line realizado pelo Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, na Suécia. O evento contou com a participação de diversos pesquisadores e profissionais do setor em todo o mundo.
“Nosso trabalho virou referência para o tema e está fornecendo informações para ações em tempo real no decorrer deste evento de circulação da monkeypox”, salienta Regina.
(Marcello Campos)