Em sua segunda reunião nesta terça-feira (1º), o Gabinete de Crise do governo gaúcho para monitorar os protestos bolsonaristas envolvendo bloqueios de rodovias avaliou que o movimento iniciado na noite de domingo perdeu força nas últimas horas. Mas o chefe do Executivo, Ranolfo Vieira Júnior, frisou que forças de segurança manterão ações nas estradas durante o feriado desta quarta-feira (2), Dia de Finados.
“Logo após a reunião, realizada no Centro Administrativo em Porto Alegre, não havia qualquer registro de bloqueio total em rodovias estaduais ou federais”, ressalta o texto publicado no site estado.rs.gov.br. “As forças de segurança continuam atuando para garantir a circulação de pessoas e a distribuição de combustíveis e alimentos.
Ainda de acordo com o Palácio Piratini, a Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), entre Canoas e Esteio (Região Metropolitana) funcionava sem bloqueios desde as 10h30min, quando a Brigada Militar atuou para permitir o acesso dos caminhões. O local está no radar da preocupação das autoridades gaúchas em meio à baderna.
Ele também destacou a permanência do efetivo policial próximo à Refap para evitar que o fornecimento de combustível seja interrompido por novos bloqueios e ações de manifestantes. “Vamos manter o efetivo próximo ao local 24 horas por dia. É importante que a população saiba que não há desabastecimento no momento e que, por isso, não há a necessidade de uma corrida aos postos”, acrescentou.
“O nosso objetivo principal era garantir a segurança para que o abastecimento de combustíveis no Estado transcorresse dentro da normalidade”, acrescentou o governador Ranolfo Vieira Júnior. “A Refap e todas as bases privadas de distribuição foram desobstruídas e vamos manter efetivos nestes locais em tempo integral durante toda esta noite e todo o dia de amanhã”.
A preocupação com um possível desabastecimento pressionou o funcionamento dos postos de combustíveis durante a tarde em função da alta procura. Conforme o Sulptero, sindicato dos postos de combustíveis, houve um distensionamento e a normalização da situação ao longo do dia.
O titular da Secretaria da Segurança Pública (SSP), Vanius Cesar Santarosa, relatou que a maioria dos protestos restantes é de concentrações fora do leito das rodovias e sem bloqueios totais: “O balanço é positivo. Começamos o dia com mais de 60 pontos de obstrução e em todos houve a ação integrada das forças de segurança. O efetivo segue mobilizado”.
Integram o Gabinete de Crise: Brigada Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar, Instituto-Geral de Perícias, Departamento Estadual de Trânsito, Secretaria de Logística e Transportes (Selt); Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer); Procuradoria-Geral do Estado (PGE); Casa Civil, Secretaria de Comunicação, Defesa Civil, Ministério Público (Estadual e Federal), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Forças Armadas, Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e Sulpetro.
Entenda
Desde a noite de domingo, caminhoneiros e outros grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro trancaram estradas – total ou parcialmente – em vários Estados. Eles defendem pautas antidemocráticas como intervenção militar no País e repetem palavras-de-ordem contra alvos que incluem Supremo Tribunal Federal (STF), Lula, “comunismo” e eleições.
No Rio Grande do Sul, o movimento teve o seu auge na segunda-feira, quando ao menos 60 pontos de rodovias estaduais e federais entraram no roteiro nacional de queima de pneus, caminhões atravessados na pista. A iniciativa causou transtornos a muitos cidadãos e violações do direito de ir e vir.
Na manhã desta terça-feira, um pelotão da tropa de choque da Brigada Militar dispersou manifestantes que bloqueavam a rodovia federal BR-116 próximo a Novo Hamburgo (Vale do Sinos). Os policiais utilizaram balas-de-borracha e gás lacrimogênio.
Alguns dos baderneiros chegaram a ensaiar resistência, jogando de volta as bombas de volta contra os policiais. Mas ninguém ficou ferido e a estrada foi desobstruída.
Rua da Praia
Também foi promovida manifestação na tarde desta terça-feira em frente a um quartel do Exército na Rua da Praia, próximo à Igreja das Dores (Centro Histórico). Vestidas de verde-e-amarelo e com bandeiras do Brasil, faixas e cartazes, dezenas de pessoas pediam um golpe militar no Brasil para impedir a posse do presidente recém-eleito.
Em determinado momento, os participantes ficaram eufóricos com a informação sobre uma suposta ordem de prisão contra o ministro do STF Alexandre de Moraes (que acumula a função de presidente do Tribunal Superior Eleitoral, também na mira dos bolsonaristas).
Houve gritaria, abraços, lágrimas e até gente comemorando de joelhos. Mas o êxtase durou pouco: tudo não passara de mais uma notícia falsa espalhada por meio do aplicativo de mensagens whatsapp. A cena viralizou nas redes sociais, com internautas de todo o País ironizando a ingenuidade de quem acreditou em uma informação sem qualquer respaldo na realidade.
(Marcello Campos)