A subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) na cidade gaúcha de Sapiranga emitiu nota de repúdio a uma lista que circula no Vale do Sinos, elaborada por bolsonaristas inconformados com a derrota na eleição presidencial. Na relação constam nomes de empresas e profissionais liberais a serem boicotados, simplesmente por terem votado no candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva, vencedor do pleito.
Ainda de acordo com a entidade de classe, a proposta de retaliação também tem sido espalhada por golpistas de cidades próximas como Aricá e Nova Hartz, bem como em outras áreas do Estado.
A seccional da OAB no Rio Grande do Sul já comunicou o Ministério Público Eleitoral sobre a situação. O objetivo é que sejam tomadas as devidas providências contra o gesto vingativo e covarde, que tem no aplicativo de mensagens whatsapp o seu principal veículo.
Comparação com o nazismo
Na manifestação feita pela Ordem em Sapiranga, trata-se de uma flagrante “ofensa aos princípios democráticos, à liberdade do sufrágio universal e à liberdade econômica”. Acrescenta que esse tipo de atitude tem por objetivo causar prejuízo econômico com práticas similares às adotadas por regimes totalitários europeus do século 20.
A comparação é mais do que pertinente. Durante os governos fascista (Itália) e nazista (Alemanha), pessoas e negócios eram boicotados por sua preferência política ou mesmo classificação racial. “É lamentável que, em pleno ano de 2022, práticas antidemocráticas tenham lugar em nosso país, que precisa de mais democracia e menos autoritarismo”, critica o texto.
Delírio totalitário
Para se ter uma ideia do ponto a que chegou o revanchismo, nem mesmo uma das mais tradicionais entidades filantrópicas foi poupada do radar implacável dos extremistas.
Em Ijuí (Noroeste gaúcho), a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) passou a ter doações canceladas depois de entrar em uma lista de boicotes. Motivo: manifestações políticas individuais de dirigentes e profissionais ligados à entidade.
A entidade contempla quase 600 pessoas com deficiência intelectual ou múltipla, sendo que boa parte desse grupo é formada por alunos de uma escola mantida pela entidade. A retaliação tem complicado inclusive a compra de merenda para pessoas de baixa renda e que precisam da refeição.
“(…) os integrantes da diretoria, bem como os profissionais que atuam na entidade, possuem sua vida privada e, portanto, possuem direitos e deveres como cidadãos, inclusive, suas próprias convicções políticas”, salienta um trecho de nota publicada pela associação local. “Posicionamentos destas pessoas não representam a Apae”.
(Marcello Campos)