As exportações do agronegócio do Rio Grande do Sul atingiram US$ 4,5 bilhões no terceiro trimestre (julho a setembro), o que representa 7,1% a menos que no mesmo período do ano anterior. Apesar da queda, em termos nominais o resultado é o terceiro melhor da série histórica do Estado (iniciada em 1997) e somente atrás dos registrados em 2021 (melhor de todo o período) e 2013.
As vendas do período foram marcadas por uma queda no volume total de produtos embarcados (-30,5%), o que foi compensado parcialmente pela alta nos preços médios pagos (+33,6%).
Dentre os segmentos mais representativos do setor, o complexo soja registrou queda de 27,6% na comercialização, totalizando US$ 2,1 bilhões no período. A redução foi determinada pela menor quantidade de produto disponível em função da estiagem que afetou o Estado e prejudicou as lavouras da oleaginosa.
Outro dado aponta que as exportações do agronegócio no trimestre passado representaram 72,7% do total das vendas externas do Rio Grande do Sul no período. As informações fazem parte do boletim “Indicadores do Agronegócio do RS”, divulgado nesta quinta-feira (10).
O documento é produzido pelo Departamento de Economia e Estatística, vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (DEE/SPGG). A elaboração ficou a cargo dos analistas Bruna Kasprzak Borges, Rodrigo Feix e Sérgio Leusin Júnior.
Setores e principais destinos
Apesar da queda no número geral, quatro dos seis principais setores exportadores do agronegócio gaúcho registraram aumento nas vendas no terceiro trimestre.
Obtiveram resultados positivos os segmentos de carnes (US$ 750,9 milhões; 16,4%), fumo e seus produtos (US$ 521,8 milhões; 109,2%), cereais, farinhas e preparações (US$ 208,0 milhões; 74%) e máquinas e implementos agrícolas (US$ 117 milhões; 9,3%). Além do complexo soja, o segmento de produtos florestais (US$ 408,3 milhões; -12,3%) apresentou baixa.
No complexo soja, a queda no terceiro trimestre de 2022 foi puxada pelo resultado da venda do grão (US$ 1,4 bilhão; – 40,8%), enquanto os outros produtos da pauta, como o farelo (US$ 403 milhões; 22,1%) e o óleo (US$ 240,1 milhões; 123,9%) tiveram números positivos. No setor de carnes, as vendas de carne bovina (US$ 129,4 milhões; 29,5%) e da carne de frango (US$ 392,3 milhões; 27%) ganharam espaço.
Enquanto isso, a carne suína (US$ 180,8 milhões; -7,7%) apresentou recuo. No fumo e seus produtos, o fumo não manufaturado – principal produto da pauta de vendas – registrou aumento expressivo (US$ 469,2; 111,8%)
Nos cereais, farinhas e preparações, o arroz (US$ 168,3 milhões; +71%) foi o principal destaque, enquanto no segmento de máquinas e implementos agrícolas as colheitadeiras (US$ 18,7 milhões; 63,2%) tiveram a alta mais expressiva.
Já para produtos florestais, a celulose (US$ 268,9 milhões; -18,6%) puxou a redução total no comércio exterior no terceiro trimestre de 2022.
Em relação aos principais destinos das exportações, a China manteve a liderança, responsável por comprar 34,4% de tudo o que o agronegócio do Estado comercializa.
O resultado deixa o país asiático à frente da União Europeia (13,7%), do Irã (6%), Estados Unidos (5,1%) e da Índia (3,8%), mas apresenta queda em relação ao percentual do mesmo período de 2021, quando foi responsável por 56,7% do total das vendas gaúchas.
Acumulado do ano
No acumulado de janeiro a setembro, as vendas do agronegócio gaúcho totalizaram US$ 11,6 bilhões, pouco acima do registrado no mesmo período de 2021 (0,1%), quando as vendas foram de US$ 11,5 bilhões.
Os nove primeiros meses do ano foram também foram marcados pela redução no volume embarcado (-19,3%) e pela alta nos preços médios (24%).
“Considerando-se a forte quebra de produção da safra 2021/22, esse desempenho não deixa de ser surpreendente. Além da alta nos preços médios, contribuíram para esse resultado a expansão nas vendas de um amplo conjunto de setores”, destaca o pesquisador Sérgio Leusin Junior.
Apesar da forte redução nas vendas do complexo soja (US$ 4 bilhões; -34,4%), influenciada pela estiagem, outros setores tiveram resultados históricos e compensaram a queda. O setor de carnes atingiu o melhor acumulado de toda a série histórica (US$ 2 bilhões; 14,4%), puxada pelas vendas de carnes de frango (US$ 1,1 bilhão; 30,5%) e carnes bovinas (US$ 340,7 milhões; 46,2%).
“Este recorde vem mesmo com a redução nas vendas de carne suína para a China, fruto da recuperação do rebanho do país após o surto da peste suína africana”, relembra o pesquisador.
Outro setor com números expressivos nas vendas externas foi o de cereais, farinhas e preparações (US$ 1,29 bilhão; 177,1%), este impulsionado pelo comércio de trigo (US$ 736,8 milhões; 482%). O contexto internacional, marcado pelo conflito entre a Rússia e a Ucrânia – esta, um importante produtor mundial de trigo –, provocou alta tanto na quantidade embarcada no RS (305,9%) quanto nos preços médios (43,4%).
No setor de fumo, as exportações de janeiro a setembro foram as maiores desde 2013 (US$ 1,4 bilhão; 65,2%). A alta nas vendas dos produtos florestais (US$ 1,24 bilhão; 16,1%) e de máquinas e implementos agrícolas (US$ 392,8 milhões; 41,2%) também auxiliaram a compensar a redução do complexo soja.
Em relação aos destinos das exportações do Estado no acumulado do ano, a China mantém a dianteira na lista, com 25,7% do total, seguida da União Europeia (15,8%), dos Estados Unidos (5,2%), da Índia (4,1%) e do Irã (3,7%).
Emprego formal
O agronegócio do Rio Grande do Sul registrou saldo negativo de 3.081 postos de trabalho com carteira assinada no terceiro trimestre de 2022. O resultado de queda no período tradicionalmente ocorre em função da sazonalidade das principais culturas agrícolas do Estado e da indústria ligada ao setor.
Considerando-se os três segmentos que constituem o agronegócio, “antes”, “dentro” e “depois” da porteira, a única perda no período de julho a setembro foi registrada no segmento “depois da porteira”, composto por atividades agroindustriais (-4.795 postos).
O principal setor responsável pelo número foi o da fabricação de produtos do fumo (-7.221 postos), em razão do ciclo sazonal da cadeia de produção. Já o segmento “antes da porteira”, formado por atividades de fornecimento de insumos, máquinas e equipamentos, teve saldo positivo de 1.133 postos. Por sua vez, o “dentro da porteira”, constituído pelas atividades agropecuárias, registrou criação de 581 empregos formais no período.
No acumulado do ano, o saldo de empregos criados no agronegócio gaúcho é de 10.853 postos. Em setembro de 2022, havia 361.699 vínculos ativos de emprego com carteira assinada no setor no Rio Grande do Sul.
O segmento mais representativo no número de empregos é o de abate e fabricação de produtos de carne, seguido do comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais e da fabricação de tratores, máquinas e equipamentos agropecuários.
Quanto ao salário médio dos empregos com carteira assinada no agronegócio na admissão, em setembro o valor era de R$ 1.809, 2,2% acima do registrado em setembro do ano passado.
(Marcello Campos)