O MP (Ministério Público) gaúcho deflagrou, na manhã desta sexta-feira (02), uma operação contra crimes de apropriação indébita, estelionato e lavagem de dinheiro supostamente praticados contra uma tradicional cooperativa de laticínios com sede em Pelotas, que tem milhares de associados espalhados em 45 municípios da Região Sul do Estado.
Com o apoio da Brigada Militar, foram cumpridos cinco mandados de busca e apreensão em quatro residências em Pelotas e uma empresa em Capão do Leão. A pedido do MP, três dos quatro alvos da operação tiveram imóveis bloqueados, totalizando R$ 60,7 milhões, valor estimado do prejuízo que teria sido causado à Cosulati (Cooperativa Sul-Riograndense de Laticínios). Ninguém foi preso.
As investigações iniciaram há três anos, a partir de representações protocoladas no MP, acompanhadas de farta documentação, que apontam possível apropriação de valores por um ex-diretor-presidente da cooperativa.
Considerado o principal alvo da operação, ele permaneceu à frente da cooperativa até o desencadeamento de um processo de liquidação extrajudicial. “Após a criação de uma comissão voltada a pesquisar os motivos que levaram ao delicado quadro financeiro da cooperativa, foi possível constatar ter havido, ao longo dos 26 anos da sua gestão, progressivo e vertiginoso quadro de endividamento que, de forma intencional, não era exposto aos milhares de cooperados. A situação chegou ao ponto de a cooperativa, à beira da ruína, ter de suspender as atividades de leite e de manteiga”, informou o MP.
A investigação aponta que o ex-mandatário deixou a cooperativa com prejuízo superior a R$ 60 milhões. No período, além de acumular dívidas, destinou valores da empresa para pagamentos de despesas particulares e de seus familiares, depósitos em sua conta bancária pessoal ou repassados a empreendimentos da família. Em um dos negócios que ele fazia entre a cooperativa e os estabelecimentos dos quais o homem e seus parentes eram sócios, foi constatado que, em 2015, a cooperativa pagou por 1.710 vacas da raça holandesa, mas só recebeu 816 animais.
“Nada era exposto aos milhares de cooperados, que não faziam ideia da real dimensão do prejuízo. É provável que tenha havido manipulação dos dados contábeis apresentados, inclusive, com a conivência da auditoria externa então contratada. Tudo isso reforça a necessidade de tornar indisponíveis bens dos investigados, de modo a, precipuamente, ressarcir os prejuízos suportados pela cooperativa e os respectivos cooperados”, disse o coordenador dos Gaecos (Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP, João Afonso Silva Beltrame.