O ex-presidente Jair Bolsonaro deixou o Brasil antes mesmo de deixar o cargo para se refugiar num condomínio de alto padrão na Flórida, nos Estados Unidos. Vivendo a rotina tranquila do Encore Resort at Reunion, localizado em uma área nobre da cidade de Kissimmee, na região de Orlando, o ex-presidente passou à condição de investigado pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro em Brasília. A implicação formal de Bolsonaro nos ataques às sedes dos Poderes deverá ampliar a pressão de parlamentares americanos que tentam impedir a permanência do ex-presidente em solo americano.
No cotidiano de Kissimmee, contudo, Bolsonaro tem vivido uma realidade que, em alguns momentos, lembra o antigo “cercadinho” do Palácio da Alvorada. Hospedado desde o fim de dezembro na ampla casa de paredes cinza pertencente ao exlutador de MMA e campeão do UFC José Aldo, o ex-presidente tem circulado pouco nas imediações do condomínio. A presença de Bolsonaro no local pode ser percebida mais pela movimentação de apoiadores, moradores e imprensa.
Na primeira semana que passou em Kissimmee, no entanto, o ex-presidente foi visto caminhando tranquilamente por seu bairro, indo ao supermercado e até fazendo uma “boquinha” no restaurante especializado em frango frito que fica perto do condomínio.
Após os atos criminosos do dia 8 e a internação, na manhã seguinte, no Hospital Advent Health, o clima tranquilo do local foi interrompido por um acampamento de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas. Os jornalistas fazem plantão na porta do condomínio e aguardam qualquer movimentação do ex-presidente.
Moradores e visitantes evitam entrevistas e preferem não se identificar quando falam. Um dos atuais vizinhos de Bolsonaro, vestindo uma camiseta do Vasco, disse que a movimentação não incomoda, pois “Bolsonaro é de boa” e “muito querido” no local.
Outros brasileiros ouvidos pela reportagem disseram que o ex-presidente é bem-vindo no condomínio. Um deles disse acreditar que Bolsonaro deveria voltar ao Brasil só se for “para pôr ordem no galinheiro”.
O visto com o qual Bolsonaro ingressou nos Estados Unidos, o diplomático, expirou no dia 1.º de janeiro, quando Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como novo presidente. Os planos iniciais de Bolsonaro eram de permanecer um mês no país como turista.
Protestos
Uma comissão de parlamentares brasileiros e americanos, entre os quais estão nomes como os democratas Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-cortez, contudo, quer acelerar a volta do ex-presidente. Eles assinaram uma carta conjunta, pedindo que seja decretada ilegal a permanência de Bolsonaro em nos Estados Unidos.
Na inédita declaração conjunta, na qual condenam o que chamam de “atores autoritários e antidemocráticos da extrema direita que agem em conluio para atacar as democracias do Brasil e dos Estados Unidos”, o grupo faz um paralelo entre os ataques ao Capitólio, em Washington, em 6 de janeiro de 2021, e as ações de agora contra os três Poderes, em Brasília.
O Washington Brazil Office (WBO ) foi responsável pela articulação da iniciativa entre os parlamentares dos dois países. Segundo Paulo Abrão, um dos membros do instituto independente, a manifestação “pede uma investigação se ele cometeu crime dentro do território americano”.
Mesmo antes da declaração conjunta, no dia seguinte aos atos dos extremistas no Brasil, cinco congressistas americanos se posicionaram contra a presença de Bolsonaro nos Estados Unidos. O deputado democrata Joaquin Castro escreveu:
“Bolsonaro não deve ter refúgio na Flórida, onde ele está se escondendo da responsabilidade de seus crimes”. Alexandria Ocasio-cortez disse que há “movimentos fascistas no exterior tentando fazer o mesmo no Brasil”.
Bolsonaro avisou o comando do PL – seu partido – que voltará dos Estados Unidos assim que superar a crise de obstrução intestinal.