18/01/2023 às 22h00min - Atualizada em 19/01/2023 às 06h20min

“Fiquei com a impressão que era o começo de um golpe de Estado”, diz Lula sobre atos extremistas em Brasília

"Fiquei com a impressão que era o começo de um golpe de Estado", diz Lula sobre atos extremistas em Brasília - Jornal O Sul

Jornal O Sul
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ter tido a “impressão” de que os atos extremistas registrados em Brasília, em 8 de janeiro, eram “o começo de um golpe de estado”.

“Eu fiquei com a impressão que era o começo de um golpe de Estado. Eu fiquei com a impressão, inclusive, que o pessoal estava acatando ordem e orientação que o Bolsonaro deu durante muito tempo. Muito tempo ele mandou invadir a Suprema Corte, muito tempo ele desacreditou do Congresso Nacional, muito tempo ele pedia que o povo andasse armado, que isso era democracia”, declarou o presidente em entrevista à Globonews nesta quarta-feira (18).

O dia do ataque

No dia 8 de janeiro, seguidores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Mais de 1,3 mil pessoas foram presas suspeitas de envolvimento nos atos. Lula havia viajado para São Paulo no fim de semana em que os ataques aconteceram. O presidente afirmou que deixou Brasília com a informação de que estava “tudo tranquilo”.

Assim que ficou sabendo da invasão, Lula disse que ligou para o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, perguntando onde estavam os soldados.

“Eu não via soldado. Eu só via gente entrando. Eu não via soldado reagindo, não via soldado reagindo. Sabe? E ele dizia que tinha chamado soldado, que tinha chamado soldado. Ou seja, e esses soldados não apareciam. Eu fui ficando irritado porque não era possível a facilidade com que as pessoas invadiram o palácio do presidente da República.”

Porta aberta

Lula afirmou que os vândalos não quebraram os vidros do Palácio do Planalto para entrar na sede do Poder Executivo. “Eles entraram porque a porta estava aberta. Alguém de dentro do palácio abriu a porta para eles, só pode ter sido. Houve conivência de alguém que estava aqui dentro.”

Em seguida, Lula relatou que conversou com o ministro da Justiça, Flávio Dino. O presidente disse que foi proposto fazer uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).

As operações de GLO são adotadas em situações graves de perturbação da ordem em que se esgotam as possibilidades de ação das forças tradicionais de segurança pública dos estados. Neste caso, essas ações são executadas pelas Forças Armadas. As GLOs são realizadas exclusivamente por ordem da Presidência da República.

No entanto, Lula optou por fazer uma intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal, nomeando o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública Ricardo Cappelli.

“Quando fizeram GLO no Rio de Janeiro, o Pezão, que era governador, virou rainha da Inglaterra. Eu tinha acabado de ser eleito presidente da República. […] O importante é que eu fui eleito presidente da República desse país. E eu não ia abrir mão de cumprir com as minhas funções e exercer o poder na sua plenitude.”

O presidente afirmou ainda que, após a intervenção na Polícia Militar do Distrito federal, a operação para retomar o controle das sedes dos Três Poderes começou a surtir efeito.

Críticas a Bolsonaro e golpe fracassado

O presidente Lula elencou atitudes de Bolsonaro que o levaram a acreditar que os manifestantes extremistas estavam seguindo orientações do ex-presidente. O petista citou, inclusive, a ida de Bolsonaro para Miami antes do fim do governo. “Eu acho que a decisão dele de ficar quieto depois de perder as eleições, semanas e semanas sem falar nada. A decisão dele de tomar a decisão de não passar a faixa para mim, de ir embora para Miami como se estivesse fugindo com medo de alguma coisa e o silêncio dele mesmo depois do acontecimento daqui, me dava a impressão que ele sabia de tudo o que estava acontecendo, que ele tinha muito a ver com aquilo que estava acontecendo”, disse.

“Obviamente que quem vai provar isso são as investigações. Mas a impressão que me deixava era essa. Possivelmente esse Bolsonaro estivesse esperando voltar para o Brasil na glória de um golpe. Sabe? E eu, então, não podia permitir GLO. Eu tinha que tomar a decisão política e tomamos a decisão certa”, continuou.

Para Lula, a tentativa de golpe de Estado não vingou por causa das reações dos Três Poderes e dos governadores. O presidente disse que houve uma união para “garantir a democracia brasileira”, o que fez com que os radicais não avançassem com a tentativa de golpe.

Gente profissional

No entanto, o presidente acredita que “gente profissional” estava envolvida com os ataques na capital federal. “O dado concreto é que segundo todo depoimento, as pessoas que vieram aqui eram profissionais. As pessoas que vieram aqui conheciam o Planalto, conheciam a Câmara, conheciam o Judiciário.”

“Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica. Ou seja, a verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso. Se eu soubesse na sexta-feira [6] que viriam 8 mil pessoas aqui, eu não teria saído de Brasília. ”, afirmou.



Fonte: https://www.osul.com.br/fiquei-impressao-comeco-golpe-estado-lula/
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