18/01/2023 às 21h48min - Atualizada em 19/01/2023 às 06h20min

Entenda por que o ataque extremista no Brasil põe o mundo em alerta

Entenda por que o ataque extremista no Brasil põe o mundo em alerta - Jornal O Sul

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Dois anos depois do ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos, o mundo voltou a ver um ato de terrorismo contra os poderes constituídos de uma democracia.

Dessa vez, o palco do movimento de extrema-direita foi Brasília (DF), e o Brasil entrou no centro da pauta de lideranças globais e de instituições multilaterais – que, unânimes, condenaram os atos extremistas e reforçaram apoio à democracia brasileira.

O analista político Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV-SP e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, diz que à luz dos ataques ao Capitólio e aos três Poderes em Brasília, analistas internacionais observam o risco de “uma onda de vandalismo contra parlamentos” nas principais democracias do mundo.

Stuenkel explica ainda por que o “medo do contágio global” da erosão democrática coloca o Brasil em evidência e destaca a importância de uma “punição exemplar, rápida e visível” aos olhos da comunidade internacional.

Ele também destaca como “o apoio internacional à democracia” foi fundamental para pautar a atuação das Forças Armadas na crise extremista de 8 de janeiro.

Repercussão

A invasão de Brasília por manifestantes contrários ao governo atual que depredaram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto foi destaque nas capas de praticamente todos os grandes veículos internacionais de imprensa, como The New York Times, Wall Street Journal, Financial Times, Economist e El País – entre outros.

O jornal espanhol El País publicou um editorial intitulado “Ataque à Democracia no Brasil” em que opinou que “Lula terá que impor a lei e punir sem atenuantes os culpados da agressão”.

O El País criticou Bolsonaro, dizendo que o ex-presidente “esperou várias horas antes de falar da Flórida, para onde foi para evitar comparecer à cerimônia de transferência de poder”.

“Só após o fracasso do ataque ele afirmou que ‘invasão de prédios públicos está fora de regra’ e repudiou as acusações que o implicavam no atentado.

Foram palavras tardias, mesquinhas diante da gravidade dos acontecimentos e que mostram, mais uma vez, o perigo que Bolsonaro sempre representou para a democracia”, afirmou o jornal espanhol em seu editorial.

“Por trás do que aconteceu [em Brasília] está, em última análise, não apenas a incapacidade de Bolsonaro de aceitar a derrota, mas o veneno de uma estridente extrema-direita que, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil e em outros países, não é capaz de aceitar as regras do jogo democrático e procura por todos os meios, incluindo a força bruta, tomar o poder.”

“O episódio vivido em Brasília, como o ataque ao Capitólio (nos EUA) há dois anos, deve servir como lembrete do enorme perigo que representam esses movimentos radicais e da necessidade de as forças democráticas permanecerem unidas e evitarem dar-lhes oxigênio.”

O editorial conclui que Lula não terá uma “jornada fácil” pela frente para lidar com a crise política no Brasil.

“Seu antecessor deixou um país quebrado e a gravíssima crise deste domingo só aprofundou essa fratura. Para superá-la, Lula terá que impor a lei e punir os culpados sem atenuantes, mas também apelar para os valores que lhe permitiram vencer nas urnas e avançar em um caminho que permita aos brasileiros recuperar a normalidade democrática.”

A revista britânica The Economist comparou a invasão de Brasília ao ataque ao Capitólio em 2021 por apoiadores do ex-presidente Donald Trump.

“Mas se os distúrbios em Washington revelaram lapsos na inteligência e na coordenação da polícia, a versão brasileira sugere que há algo mais sinistro. Embora não haja evidências de que a polícia foi cúmplice da insurreição, eles foram, no mínimo, passivos.

Logo após o início da invasão do Congresso em Brasília, um grupo de policiais foi flagrado conversando com manifestantes, tirando selfies e filmando o caos, em vez de agir para detê-lo”, escreveu a revista.

“Os pedidos de reforço do chefe da polícia do Senado ao governador do Distrito Federal, que é aliado de Bolsonaro, foram ignorados até o final da tarde. (Em uma aparente tentativa de livrar sua cara mais tarde, ele demitiu seu secretário de segurança, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro.)”

A revista afirma que o governo Lula precisará concentrar seus esforços em lidar com essa crise, adiando qualquer outro plano.

“A intervenção federal dá ao governo de Lula amplos poderes para investigar e demitir qualquer policial que tenha violado seus deveres por causa de suas convicções políticas. Isso poderia dar início a esforços de reforma semelhantes em outros Estados brasileiros.

Isso pode desviar a atenção de outros assuntos urgentes, como uma série de reformas econômicas urgentes. Quaisquer reformas que exijam mudanças constitucionais terão que esperar até que a intervenção federal termine.”

“Depois de anos de tumulto político e econômico, os brasileiros estão desesperados por estabilidade. Eles vão ter que esperar um pouco mais”, diz a Economist.

O jornal americano The New York Times disse que a invasão de Brasília “foi o ápice violento de incessantes ataques retóricos aos sistemas eleitorais do país por parte de Bolsonaro”, que fez falsas alegações contra a eleição de outubro, quando foi derrotado por Lula.

O New York Times afirmou ainda que Bolsonaro está “entocado há milhares de milhas na Flórida”, enquanto a violência ocorria em Brasília. Em outro artigo, o jornal americano comparou a invasão de Brasília com o ataque ao Capitólio.

Em ambos os casos, segundo o jornal, os movimentos foram fomentados por líderes derrotados nas urnas que acusaram fraudes eleitorais sem provas — Donald Trump e Jair Bolsonaro.



Fonte: https://www.osul.com.br/entenda-por-que-o-ataque-extremista-no-brasil-poe-o-mundo-em-alerta/
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