A Polícia Federal (PF) cumpriu, até a noite dessa sexta-feira (20), cinco de um total de oito mandados de prisão na primeira fase da operação Lesa Pátria, que mira financiadores e participantes de atos terroristas ocorridos em Brasília, em 8 de janeiro.
Entre os alvos, estão uma intérprete de libras, um ex-funcionário terceirizado do governo e um influenciador que utilizava um canal na internet para incitar atos antidemocráticos. Um dos alvos foi abordado em sua casa, mas conseguiu fugir ao pular a janela do segundo andar. O quinto preso não teve a identidade informada.
De acordo com a Polícia Federal, os fatos investigados envolvem crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
Conheça alguns dos alvos da Lesa Pátria:
Renan é ex-funcionário terceirizado do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Ele já havia sido preso por policiais militares do Distrito Federal por soltar fogos de artifício próximo ao Ministério do Meio Ambiente. Ao cumprir o mandato, a PF encontrou em sua casa R$ 22 mil em dinheiro vivo.
Nas redes sociais, Renan costuma fazer publicações em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em seu canal do YouTube, publicou um vídeo dentro do QG do Exército no dia 6 de janeiro, em que chamava para uma “grande ação neste fim de semana” e convocava “oficiais e praças” das Forças Armadas. No vídeo, ele ainda afirma que o local aguardava novos manifestantes com “vários panelões (de comida) prontos”.
Ainda em maio de 2020, no início da pandemia da covid, Sena já havia protagonizado cena de agressão a enfermeiras, que se manifestavam em Brasília em favor de medidas de contenção ao coronavírus.
Na ocasião, o ato, segundo os organizadores, “era para reforçar a necessidade da população cumprir o isolamento social” e prestar homenagem aos 55 enfermeiros, técnicos e auxiliares que tinham perdido a vida para a doença até então. Vestido de verde e amarelo, Sena enfrentou e agrediu as enfermeiras, em vídeo que circulou nas redes à época. O deputado eleito Gustavo Gayer (PL), de Goiás, também participou do enfrentamento aos manifestantes na ocasião.
Ramiro é citado em depoimento de diversos outros presos como sendo um dos organizadores e incentivadores dos atos do dia 8. Ele esteve em Brasília e, após o desmonte do acampamento no QG do Exército, chegou a visitar detidos no ginásio da PF em que eram mantidos. Ele disse que conseguiu entrar no local “miraculosamente”.
Filiado ao PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, Ramiro foi candidato a deputado federal por São Paulo no último pleito, mas não se elegeu. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele recebeu R$ 150,9 mil em recursos na última campanha. Em 2018, também concorreu a deputado federal pelo PSL, sigla pela qual Bolsonaro se elegeu presidente à época.
Em suas redes sociais, ele ostenta foto com o irmão de Jair Bolsonaro, Renato, na sede do PL em São Paulo.
Randolfo participou do acampamento em frente ao QG do Exército em Belo Horizonte (MG). Em grupos de mensagens, ele incitava ações ilegais, como bloqueio de refinarias, e enviava áudios desejando pela morte do Presidente Lula e do ministro Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Soraia é intérprete de libras do Mato Grosso do Sul e aparece em postagens nas redes sociais como apoiadora de do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em uma das fotos compartilhadas em seu perfil, Soraia aparece ao lado e pede votos para Capitão Contar (PRTB), candidato derrotado a governador do Mato Grosso do Sul, e para quem Bolsonaro pediu votos durante debate presidencial da TV Globo, nas eleições do ano passado.
Ela chegou, inclusive, a atuar formalmente na campanha de Contar: dados do TSE mostram que Soraia trabalhou como intérprete de libras e recebeu R$ 1,4 mil da campanha do então candidato do PRTB.
Em seu perfil no Instagram, ela também tem foto com um dos filhos de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo, publicada em 2021.
O empresário goiano Raif Jibran Filho também foi alvo de mandado de prisão da PF, mas conseguiu escapar. Fontes da Polícia Federal confirmaram que ele pulou do segundo andar, pela janela, e fugiu ao ser abordado em sua residência.
Sócio-administrador de um restaurante em Alto Paraíso de Goiás, Raif Jibran Filho é um dois oito alvos de mandados de prisão preventiva. Nas redes sociais, circula vídeo gravado por ele durante os atos extremistas de 8 de janeiro.
“Dia 8, aqui, domingo. Mostrando que o poder emana do povo. Estamos aqui tomando tiro de borracha, gás lacrimogêneo, mas mostrando que essa p* é nossa! (…) É guerra! Quer ser comandado por comunista? Vem pra guerra!”, diz Jibran Filho, no vídeo.