O pedido da Americanas de recuperação judicial foi aceito pela Justiça na última quinta-feira. As dívidas da empresa somam R$ 43 bilhões, divididas entre aproximadamente 16,3 mil credores. Com o pedido aceito, a companhia entra em “prazo de blindagem” e tem dívidas suspensas por 180 dias para que consiga negociar com os credores.
A empresa varejista elencou uma série de motivos para justificar o pedido de recuperação judicial. Entre eles, cita a consolidação da marca entre os brasileiros e até a presença no “Big Brother Brasil” como exemplo disso.
A empresa explica, por exemplo, que o pedido foi feito com urgência para evitar danos ao caixa e diz que alguns credores “tomaram medidas” que levaram ao “esvaziamento do caixa” da empresa por meio da declaração de vencimento antecipado das dívidas e, assim, segundo o documento, “fecharam as portas para qualquer negociação amigável”.
Mesmo com a decisão judicial obrigando que os credores devolvessem os valores que obtiveram da companhia por conta do fato relevante, ela diz que isso não aconteceu. A empresa também diz que, devido ao rebaixamento de sua nota pela agências de classificação, os bancos “se negaram a adiantar recebíveis de cartão de crédito”, o que, segundo ela, “drenou mais de R$ 3 bilhões do caixa”.
O documento ainda cita a queda “histórica” de mais 80% do valor de mercado da empresa em menos de uma semana. Por tudo isso, ela alega que “viu-se sem saída”: se a recuperação judicial não acontecesse, ela correria risco de quebrar.
Contextualização
O documento diz que a operação do grupo “sempre foi saudável”, pelo menos até a última semana – antes, portanto, de ter revelado as inconsistências contábeis. Depois disso, ela diz que “as requerentes viram seu caixa e expectativas de faturamento ruírem em questão de minutos”.
Cita que a estimativa do valor das inconsistências está na ordem de R$ 20 bilhões, o que pode elevar o endividamento do grupo para R$ 40 bilhões, aproximadamente. No mesmo documento, a empresa ainda cita que o valor total das dívidas da empresa é de R$ 43 bilhões.
No texto, a empresa afirmou que “precisa do apoio e da compreensão do Poder Judiciário e dos credores para superar essa crise” e explica que todo o colapso financeiro se deu após ter revelado ao mercado as inconsistências contábeis, destacando que “ainda é cedo para precisar o que aconteceu e quem são os efetivos responsáveis”.
Viabilidade
Apesar de tudo isso, a companhia afirma que sua operação ainda é viável. Segundo o documento, “a crise de fluxo de caixa vivenciada é momentânea, passageira e certamente será superada”. Isso porque, segundo a empresa, “a receita líquida da Companhia, até o 3º trimestre de 2022, girava em torno de R$ 27 bilhões, sendo o EBITDA ajustado de R$ 3,157 bilhões”.
Já as dívidas (sem as inconsistências) somam R$ 20,7 bilhões, dos quais 89% são de longo prazo. Portanto, segundo o documento, o valor do caixa era maior do que o valor das dívidas de curto prazo.
O grupo tinha expectativa de melhorar o desempenho neste ano, com base em resultados positivos que obteve no terceiro trimestre do ano passado. Ela cita principalmente a fintech AME, de cashback.
Consequências
Por fim, cita os impactos que uma eventual quebra poderia ter como demissões e colapso “da já tradicional e consolidada cadeia de produção no Brasil” e para “os mais de 50 milhões de consumidores que se valem dos serviços prestados pelo grupo”. Ela cita desde o preço do ovo de páscoa (e alega que é “a maior varejista desses produtos no mundo”) até o sistema de entrega em comunidades de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Outro argumento usado é que “diversos setores econômicos” dependem de sua operação. Ela cita os empresários e empreendedores que usam seu marketplace e também os fornecedores.