O dólar e os juros fecharam a semana pressionados pelas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à independência do Banco Central e ao teto de gastos. A moeda norte-americana subiu 2,05% frente ao real, sendo vendida à vista a R$ 5,1470 nesta sexta. O Ibovespa cedeu 3,38% na semana, ao fechar em baixa de 1,47%, aos 108.523,47 pontos, agora no menor nível de encerramento desde 5 de janeiro (107.641,32).
Parte da alta do dólar vem do cenário externo, onde a moeda americana mostrou uma força generalizada, principalmente após os dados surpreendentes de emprego nos EUA e os números sobre a atividade de serviços no país.
O Ibovespa fechou o dia em queda, mesmo com leve recuperação de Petrobras e Vale atenuando a pressão vinda do ambiente desfavorável a risco no exterior com os dados fortes dos Estados Unidos. O índice caiu 1,47%, encerrando o pregão em 108.523 mil pontos. Na máxima, chegou a 110.586 pontos.
Beneficiados pela forte alta do dólar, Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) tiveram as maiores altas, de 2,98% e 2,11%, respectivamente, e estão entre os papéis mais negociados no Ibovespa nesta sexta. A preocupação com o controle de juros e inflação derrubou os bancos. O Bradesco caiu mais de 2%; o Itaú recuou 0,36% e o Banco do Brasil perdeu 0,63%.
As falas do presidente Lula também pressionam todas as curvas de juros. Os contratos com vencimento em 2024 subiram de 13,69% ao ano nesta quinta (2) para 13,83%. No vencimento para 2025, a taxa subiu de 13,06% para 13,29%. Para 2027, os juros avançavam de 12,90% para 13,20%.
Para Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank, o Ibovespa encerra uma semana de tirar o fôlego dos investidores, com os dados do governo dos Estados Unidos mostrando que ainda é cedo para dizer que a batalha contra inflação está ganha por lá e fatores políticos impactando a volatilidade do índice por aqui.
Críticas ao BC
Em entrevista à RedeTV!, o presidente Lula endossou as críticas à Selic, à meta de inflação e disse querer entender para que serviu o novo status do Banco Central. Ele afirmou ainda que pretende esperar o fim do mandato de Roberto Campos Neto na presidência da instituição para avaliar o sentido de um Banco Central independente e que “vai começar a cobrar” explicações para uma taxa de juros em 13,75% ao ano.
“Os comentários de Lula tendem a elevar as incertezas em torno do cenário de inflação, o que resultará em maiores juros no Brasil e maior instabilidade política. Com as eleições do Congresso Nacional definidas, o mercado precisa de um movimento de tranquilidade, para finalmente focar única e exclusivamente na economia do país. Esses comentários podem significar que estamos próximos de mudança significativa na configuração do Copom”, afirma Bazzo. “No geral, o quadro é de cautela”, diz.
Gustavo Neves, da Blue3, diz que que as falas de Lula vão “dar uma chacoalhada no mercado”. “Mas ele mesmo vai respeitar, porque é algo proposto em lei. São só falas, ele não tomou nenhuma atitude concreta. O problema é que, quando a gente vai conversar com o investidor estrangeiro, ele vê as críticas ao Banco Central com bastante cautela”, afirma o analista.