Depois de um encolhimento nas urnas do ano passado, o partido Novo busca se firmar como um foco de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e atrair parlamentares eleitos por outras legendas. Fazem parte desse plano formar um “bloco suprapartidário” contra ao PT no Congresso Nacional e buscar filiações de adversários de Lula especialmente no Senado, onde não há exigência de janela partidária para desfiliações.
A agremiação já fez convites a parlamentares ligados à operação Lava-Jato, como o senador Sérgio Moro (União-PR) e o deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), conforme revelam fontes internas da sigla. Ambos já estiveram no radar do Novo antes mesmo da campanha eleitoral de 2022.
Na semana passada, o presidente do partido, Eduardo Ribeiro, viajou a Brasília para acompanhar a filiação do senador cearense Eduardo Girão, que trocou o Podemos pelo Novo para ser vice-líder da oposição no Senado no bloco com PL, PP e Republicanos.
“A agenda programática do PT é diametralmente oposta à do Novo. A vinda do senador Girão manterá firme nosso posicionamento como oposição, mas também estamos conversando com outros parlamentares para formar uma articulação suprapartidária”, disse Ribeiro.
Além de Girão, o Novo procura atrair outros parlamentares, especialmente de Podemos e União Brasil, descontentes com a aproximação de seus partidos com o governo Lula. Dallagnol, que apoiou a candidatura de Marcel Van Hattem (Novo-RS) à presidência da Câmara dos Deputados, não pode trocar de partido até o início de 2026, sob risco de perda de mandato.
Sérgio Moro, por sua vez, nega ter intenção de trocar de sigla. Questionado pela imprensa, garantiu por meio de nota que “respeita o partido Novo mas está firme no União Brasil”. Sua esposa, Rosangela, elegeu-se deputada federal pelo União Brasil em São Paulo.
“Não tenho dúvida que a migração de outros parlamentares ocorrerá naturalmente”, avalia Girão. “O Novo reviu suas estratégias, sem deixar de ser um partido com premissas bem definidas. E, com nosso bloco no Senado, partimos de uma posição forte.”
Internamente, membros do Novo avaliam que a redução das bancadas no Congresso trouxe dificuldades de articulação e até de manutenção de quadros importantes, como o governador de Minas, Romeu Zema. O PL, partido com a maior bancada na Câmara, negocia a filiação de Zema, acenando com maior musculatura para uma possível candidatura presidencial em 2026.
Na tentativa de evitar uma debandada, o Novo também estuda liberar o acesso de candidatos ao fundo partidário, até então nunca usado pela sigla, que veta uso de verba pública em campanha. O partido também pediu a Zema para articular filiações de prefeitos em Minas, na contramão do que fez em 2020, quando alguns candidatos tiveram que se desfiliar para concorrer em municípios do interior, onde o Novo não quis lançar chapas.
Bolsonaro
Após oito deputados federais e 12 estaduais terem sido eleitos pelo Novo em sua primeira disputa, em 2018, as bancadas caíram para menos da metade em 2022. Sem bater a cláusula de barreira, a sigla perdeu acesso ao tempo de propaganda em rádio e TV. Em 2020, o partido teve desempenho tímido nas eleições municipais.
Ao longo do governo do então presidente Jair Bolsonaro (2019-2022), a bancada do Novo mostrou alinhamento com o governo em votações na Câmara e, diferentemente da postura adotada agora em relação Lula, evitou se juntar à oposição. Em março de 2021, uma diretriz partidária que orientou oposição ao governo federal da época argumentou que “o bolsonarismo pode causar tanto mal quanto o petismo”.