Moeda comum europeia registrou queda acentuada em relação ao dólar em 2022, quando a crise energética atingiu o continente. Agora o euro se recupera, o que ajuda os países europeus a combaterem a inflação. O euro recuperou grande parte das perdas em relação ao dólar, após a invasão da Ucrânia pela Rússia e a crise energética que a guerra desencadeou.
Neste sábado (11), 1 euro estava cotado a 1,07 dólar, ou 13% a mais em comparação com setembro de 2022, quando a moeda europeia chegou a valer cerca de 0,95 dólar, sua menor cotação em 20 anos.
A alta da moeda comum usada por 20 países na Europa tem sido estimulada por uma queda nos preços de energia, o que alivia os temores de recessão na zona do euro e no Banco Central Europeu (BCE), que continua aumentando agressivamente suas taxas de juros.
A recuperação do euro também foi apoiada pelo enfraquecimento do dólar, após o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) reduzir o ritmo de aperto monetário em resposta ao arrefecimento da inflação.
“Há apenas três meses, as expectativas do mercado quanto à gravidade da crise na Europa eram muito extremas. Muitos especuladores apostavam numa crise realmente grande na Europa, por causa da guerra na Ucrânia e suas consequências referentes à energia”, afirma Viraj Patel, um analista de divisas da Vanda Research. “Isso simplesmente não se materializou dessa maneira.”
Por que o euro havia caído? O euro passou por um ano de 2022 turbulento, quando a guerra na Ucrânia e as sanções ocidentais contra a Rússia empurraram a Europa para uma crise energética sem precedentes.
Os preços do gás natural dispararam a níveis recordes, atrapalhando a frágil recuperação econômica da região após a pandemia de covid-19. Devido à piora das perspectivas econômicas, incluindo a alta da inflação e o aumento dos custos dos empréstimos, economistas chegaram a prever uma recessão profunda na zona do euro – o que, consequentemente, impulsionava a desvalorização da moeda comum.
Embora os estreitos laços econômicos com Moscou tenham deixado a zona do euro sofrendo o impacto da crise energética, a incerteza econômica rapidamente se espalhou na economia global e levou os investidores a se refugiarem no dólar, já que viam a moeda americana como um porto seguro. Assim, o dólar subiu ainda mais em relação ao euro.
A moeda europeia também perdeu força por causa da relutância inicial do BCE em aumentar as taxas de juros, enquanto o Fed começou mais cedo a fazer aumentos agressivos de suas taxas. Assim, a possibilidade de rendimentos mais altos nos EUA atraíram investidores estrangeiros, fortalecendo ainda mais o dólar.
“Havia um sentimento no mercado de que ‘não há alternativa’ ao dólar e, por isso, a moeda americana estava tão forte”, explica Andreas König, chefe do departamento de moedas estrangeiras da Amundi Asset Management.
E por que o euro subiu? A alta do euro nos últimos meses tem muito a ver com um inverno mais ameno na Europa. O clima mais quente do que o normal, auxiliado por um impressionante esforço para reduzir o consumo de gás, não apenas acalmou as preocupações com apagões e racionamento de energia, como também fez caírem os preços do gás natural.
A situação energética melhor do que o esperado animou as perspectivas das indústrias da região, sugerindo que a zona do euro poderia evitar uma recessão. No quarto trimestre de 2022, ela chegou a registrar um crescimento surpreendente na produção.
A alta do euro também está sendo apoiada pela postura agressiva do BCE, que continua aumentando as taxas para deter a inflação – que permanece teimosamente alta – embora seus pares, como o Fed, já desaceleram um pouco.
“Como as taxas de juros sobem mais rapidamente na Europa do que nos EUA, elas beneficiam o euro e atraem fluxos externos de capital para a zona do euro”, analisa Carsten Brzeski, economista-chefe para Alemanha e Áustria do ING.
O euro também ganhou com a fragilidade geral do dólar. A moeda americana caiu em relação a uma série de moedas importantes nos últimos meses, incluindo a libra e o iene, à medida que o alívio das pressões inflacionárias nos EUA oferece ao Fed mais espaço para suavizar sua postura monetária agressiva.