Auxiliares e ministros do governo federal tentam convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a baixar o tom nas críticas em relação à atuação do BC (Banco Central) e evitar ataques diretos ao presidente da instituição financeira, Roberto Campos Neto.
Para integrantes do governo, é preciso paz e uma “trégua”, embora o PT continue fazendo críticas recorrentes à atuação de Campos Neto, do BC e da taxa básica de juros, hoje em 13,75%.
Alguns ministros, como Fernando Haddad (da Fazenda) e Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais), além de assessores do governo, entraram em campo na semana passada, quando Lula atacou o nível da Selic em um evento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no Rio.
A avaliação é de que as falas do presidente durante o evento contaminaram a agenda que seria positiva na área da saúde, quando foram anunciadas medidas para reduzir a fila de cirurgias eletivas no SUS (Sistema Único de Saúde).
De volta a Brasília, os ministros intensificaram as conversas com Lula para convencê-lo a baixar o tom, não falar da autonomia do BC nem de Campos Neto. Ele foi aconselhado a não personificar ao falar de juros, disse um ministro.
Segundo esse integrante do governo, nas reuniões, foi explicado ao presidente o conteúdo da lei que dá autonomia ao BC e seus objetivos de suavizar as flutuações da atividade econômica, do mercado financeiro, além do controle da inflação.
O resultado foi que, nesta semana, Lula evitou falar do nível da taxa de juros e da autonomia do BC nos eventos públicos.
PT
Apesar das tentativas de ministros, as críticas de Lula têm sido vocalizadas por parlamentares do PT, inclusive por sua presidente, a deputada Gleisi Hoffmann (PR). Os deputados insistem, por exemplo, em convocar Campos Neto a prestar esclarecimentos no Congresso.
Na cerimônia de comemoração dos 43 anos do PT, na última segunda-feira (13), apenas Gleisi criticou o BC. Lula fez um discurso endereçado à militância, restringindo-se ao processo de criação do PT, à sua prisão e à volta ao governo. Na reunião do conselho de coalizão, no dia seguinte, apenas os líderes tocaram no assunto.
A entrevista de Campos Neto ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em que ele demonstrou disposição de dialogar com o governo, foi considerada positiva e ajudou a acalmar os ânimos.