A Empresa Brasil de Comunicação (EBC) vai vender 16 imóveis que consomem R$ 238 mil por ano dos cofres públicos somente com despesas de manutenção, impostos, condomínio e segurança. São prédios, salas comerciais e vagas de garagem, em seis estados. Alguns estão sem uso há mais de dez anos porque pertenciam ao conglomerado de mídia incorporado pela EBC, do qual fazia parte a extinta Radiobrás.
A decisão foi tomada pela nova cúpula da empresa, que em breve também pretende anunciar outros 19 imóveis, em todo o País, além de quatro apartamentos funcionais que eram ocupados por diretores, em Brasília. A EBC ainda vai avaliar o preço de mercado de todo esse “espólio”, que será posto à venda pelo sistema de licitação do Banco do Brasil.
Os imóveis do primeiro lote estão localizados em Belo Horizonte, Porto Alegre, Florianópolis, João Pessoa, Manaus, São Gabriel da Cachoeira (AM), Tefé (AM) e Cruzeiro do Sul (AC). A previsão é de que sejam vendidos até meados de 2024. Os apartamentos funcionais, por sua vez, ficam na Asa Sul, em Brasília.
“Não faz sentido mantermos mordomias numa empresa pública que tem carência de recursos”, disse o presidente da EBC, Hélio Doyle. “O que a EBC tem de fazer é atender a população, não simplesmente beneficiar seus dirigentes e empregados. Queremos vender os apartamentos funcionais, assim como os outros imóveis sem uso, para aplicar os recursos na atividade-fim da EBC, que é a programação de TV, de rádio e de agência”, disse o jornalista.
Criação
Criada em 2008 no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a EBC já foi acusada várias vezes de ser chapa-branca. A lei que tirou o projeto do papel, porém, proíbe “qualquer forma de proselitismo na programação das emissoras públicas”. A empresa mantinha dois canais de televisão: um para divulgar atos oficiais do governo (NBR), lançado na gestão de Fernando Henrique Cardoso, e outro com caráter público e educativo, batizado de TV Brasil.
Na campanha de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro disse que acabaria com a “TV do Lula”. Ora ameaçava fechar, ora privatizar a EBC. Eleito, Bolsonaro não fez nem uma coisa nem outra. Em abril de 2019, fundiu a TV Brasil com a NBR, sob o argumento de que era preciso cortar gastos e extinguir o “cabide de empregos”, mas acabou aparelhando a emissora com militares e amigos.
Além disso, muitos cultos evangélicos prestigiados pelo então presidente foram exibidos pelo canal aberto. Também foram criados programas que mostravam a atuação de Exército, Marinha e Aeronáutica. Em agosto de 2022, servidores da EBC chegaram a divulgar um dossiê para denunciar o uso político da empresa – atualmente com 1.700 funcionários -, censura, assédio e noticiário chapa-branca. A EBC mantém na Ouvidoria o coronel Cristiano Mendonça Pinto, com salário de R$ 21,5 mil. Ele foi nomeado em outubro de 2022 por Bolsonaro e tem mandato de dois anos.