A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) condenou, em nota, um teor racista na postura de determinadas fabricantes de pomadas para trançar e modelar cabelos durante uma reunião no dia 17. Os produtos estão com a venda proibida no Brasil desde o início do mês devido a uma investigação para identificar as causas dos efeitos colaterais indesejados associados ao uso das substâncias, como ardência nos olhos e cegueira temporária.
No comunicado, a Anvisa afirma que alguns representantes das marcas suspensas alegaram que os efeitos seriam “restritos ao uso para trançar cabelos e a suposta prática dos usuários de não lavar os cabelos trançados por diversos dias”. “Tais declarações levantaram questionamentos sobre eventual aspecto discriminatório e racista contido em tais falas”, disse a agência.
O órgão acrescentou que não há dados que relacionem os efeitos colaterais a uma forma específica de uso e que diversas causas fazem parte da investigação, como a própria formulação dos produtos e “eventuais impurezas”. “Portanto, não há alegações técnicas de que os eventos adversos graves estejam relacionados ao uso por pessoas negras e mais especificamente à prática de trançar cabelos”, frisou.
A Anvisa também reforçou que “refuta e abomina qualquer forma de discriminação, em especial o racismo. Como instituição pública, a Agência está comprometida com a proteção e a promoção da saúde da população, considerando o acolhimento das diversidades de povos, etnias e culturas que compõem o Brasil”.
Na nota, a agência diz ainda que alguns representantes sugeriram proibir o uso das pomadas apenas para trançar os cabelos, liberando para as demais finalidades. A autarquia destacou que continua com a investigação para identificar os efeitos adversos e “permitir que os produtos voltem ao mercado assim que houver garantia de segurança para todos os consumidores e consumidoras”.
Entenda
No último dia 10, a autoridade sanitária brasileira proibiu a comercialização de todas as marcas de pomadas para modelar e trançar os cabelos no Brasil “considerando os relatos de eventos adversos graves relacionados a intoxicação ocular”.
A medida, com caráter preventivo, veio após 27 produtos de fabricantes específicas já terem sido suspensos enquanto a agência dava início às investigações sobre diferentes formas de lesão nos olhos, como cegueira temporária e forte ardência da região, consequentes do uso.
“Enquanto a medida estiver em vigor, nenhum lote de qualquer desses produtos pode ser comercializado e não deve ser utilizado por consumidores e profissionais de beleza. Mesmo exemplares adquiridos anteriormente e existentes nas residências ou em salões de beleza não devem ser utilizados neste momento”, disse a Anvisa.
Além da perda temporária da visão e da ardência nos olhos, a agência afirma que os relatos envolvem outros efeitos como lacrimejamento intenso, coceira, vermelhidão, inchaço ocular e dor de cabeça. O órgão destaca ainda que, de acordo com as informações disponíveis, as queixas aconteceram principalmente depois de banhos de mar, piscina, ou mesmo de chuva após o uso dos produtos.
Na reunião do dia 17 com as responsáveis pelas marcas, a Anvisa disse contabilizar 780 casos de intoxicação exógena, quando é provocada pelo contato com substâncias químicas, nos olhos, associada ao uso dos produtos.