04/03/2023 às 22h37min - Atualizada em 05/03/2023 às 00h02min

Após discurso preconceituoso de vereador gaúcho, ministros do Tribunal Superior do Trabalho manifestam solidariedade aos nordestinos

Após discurso preconceituoso de vereador gaúcho, ministros do Tribunal Superior do Trabalho manifestam solidariedade aos nordestinos - Jornal O Sul

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Ministros do Tribunal Superior do Trabalho (TST) prestaram solidariedade à população da Região Nordeste do País, cujos habitantes foram alvo de discurso preconceituoso e xenófobo do vereador Sandro Fantinel, de Caxias do Sul (Serra Gaúcha), no final do mês passado. Além de divulgarem nota de repúdio à atitude do parlamentar, integrantes da Corte protestaram durante seminário internacional.

“O Brasil nunca será digno se tivermos pessoas que se sintam superiores a outras, seja em pensamento, fala ou comportamento”, discursou o magistrado Cláudio Mascarenhas. “Somos únicos na miscigenação sob a qual fomos construídos, indígenas, negros, brancos, europeus.”

O magistrado é natural da Bahia, mesmo Estado de origem da maioria dos trabalhadores recentemente resgatados condições análogas à escravidão em um alojamento de empresa terceirizada para fornecimento de mão-de-obra a vinícolas de Bento Gonçalves. Eles já retornaram para casa, enquanto as investigações prosseguem.

A repercussão negativa do caso foi potencializada por declarações como a do vereador caxiense, que usou a tribuna da Câmara local para dizer que a culpa pelo problema era das próprias vítimas, “que não gostam de trabalhar, porque preferem ficar na praia tocando tambor”. Também não faltou uma entidade de empresários locais a responsabilizar o programa Bolsa Família pelos abusos.

Nascida no Ceará, a ministra Kátia Magalhães Arruda se uniu ao protesto. “Não posso deixar de dizer, em homenagem aos colegas  da mesma região brasileira: viva o povo nordestino!”.

A magistrada Maria Helena Mallmann, que é da cidade gaúcha de Estrela, foi outra a engrossar o coro: “Quero dizer da minha admiração pelos povos do Nordeste e do Norte. Como mulher do Sul e tradicionalista, tenho orgulho do meu Estado mas também reconheço toda luta dos demais povos”.

Além de ser expulso do partido Patriotas, o vereador é investigado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul e alvo de processo de cassação pelo Legislativo de Caxias do Sul. O MPT também abrirá inquérito por apologia ao trabalho escravo.

Manifestação anterior

Na quarta-feira, a 7ª Turma do TST já havia se posicionado sobre o assunto. Além de classificar como graves os abusos trabalhistas descobertos na Serra Gaúcha, repudiou a fala do vereador caxiense. “Quem conhece a cidade baiana de Valente, local de origem da maioria dessas vítimas, sabe que é uma região conhecida pelo recorrente aliciamento de mão-de-obra”, citou o ministro Cláudio Brandão.

O magistrado acrescentou outros detalhes: “Os chamados ‘gatos’ oferecem condições vantajosas a pessoas carentes e elas, iludidas, aceitam as promessas. Acabam submetidas a condições desumanas, como ocorreu no caso do Rio Grande do Sul”.

Brandão salientou, ainda, o apoio da Corte ao Ministério Público do Trabalho (MPT) por sua atuação. Por outro lado, lamentou que até hoje ninguém foi condenado no Brasil, sob a esfera penal, por esse tipo de crime, previsto na legislação: “Precisamos ir além da reparação pecuniária por danos morais e materiais, para insistir que a esfera penal cumpra seu papel”.

O ministro conclamou o Congresso Nacional a regulamentar a Emenda Constitucional nº 81, que prevê a desapropriação de áreas e imóveis onde for cometida exploração de trabalho sob regime semelhante ao da escravidão, oficialmente abolida do País em 1888.

Relembre

Transmitido na internet e gravado pelo Legislativo municipal durante sessão no dia 28 de fevereiro, o discurso do vereador caxiense foi alvo de repúdio em todo o País. Nos três minutos finais, Sandro Fantinel não apenas ofende os habitantes da Bahia. Ele defende a ideia de que os empresários da Serra Gaúcha não contratem mais “aquela gente lá de cima” e diz que argentinos devem ter preferência na contratação para trabalhos temporários por serem “mais limpos e corretos”.

Em um trecho da manifestação discriminatória, o parlamentar municipal chega a ironizar as condições degradantes encontradas no alojamento dos trabalhadores em Bento Gonçalves: “Mas essa gente quer o quê? Hotel cinco-estrelas?”. Dias depois, dizendo-se arrependido, ele lançaria mão de um argumento bastante comum nesse entre protagonistas desse tipo de situação: “Fui mal interpretado”.

(Marcello Campos)



Fonte: https://www.osul.com.br/apos-discurso-preconceituoso-de-vereador-gaucho-ministros-do-tribunal-superior-do-trabalho-manifestam-solidariedade-aos-nordestinos/
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