O ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), passou a semana se empenhando em diminuir a temperatura da crise entre ele e alguns setores do PT, que se tornou mais evidente depois que os petistas se mostraram insatisfeitos com as indicações feitas por ele para o conselho da Petrobras.
Mas a revelação de que auxiliares de Jair Bolsonaro tentaram entrar no Brasil trazendo jóias não-declaradas da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama Michelle pode piorar novamente o clima para ele no governo.
Isso porque um dos principais motivos de irritação do PT com Silveira é sua ligação com o antecessor, o almirante Bento Albuquerque – justamente o ministro de Bolsonaro que, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, tentou usar o cargo para liberar um conjunto de jóias que tinham acabado de ser apreendidas pela Receita Federal.
As jóias, avaliadas em 3 milhões de euros, estavam na mochila de um assessor de Albuquerque. Ao jornal Estadão, que revelou o caso, Albuquerque disse que não sabia o que havia na mochila – mas não negou ter tentado liberar o material na aduana.
Albuquerque é descrito no PT como uma espécie de eminência parda do ministério de Silveira, por ter indicado alguns antigos subordinados para a nova equipe, além de já ter sido visto algumas vezes no ministério.
Um desses assessores é Bruno Eustáquio, que foi secretário-executivo adjunto do Ministério das Minas e Energia de Albuquerque. Outra é Marisete Pereira, que foi secretária-executiva.
Assim que assumiu a pasta, Silveira tentou nomear Eustáquio para ser o secretário-executivo, ou o seu 02. Ele, porém, foi vetado pela Casa Civil, que encontrou uma curtida sua na postagem de um vídeo em que o ex-ministro da Infraestrutura Marcelo Sampaio cantava um jingle de campanha de Bolsonaro.
Depois disso, Silveira cogitou apresentar o nome de Marisete para o posto, mas depois das primeiras sondagens recebeu um recado de que não adiantava nem tentar. Isso porque no Planalto a ex-secretária é vista como a “mãe da privatização da Eletrobras”, que Lula até hoje não engoliu.
A questão é que, ao invés de escolher outra pessoa para ser o seu 02, Silveira continuou insistindo em Eustáquio, o que o Planalto não admite. O resultado é que o ministério está até hoje sem secretário-executivo.
Ainda assim, tanto Eustáquio quanto Marisete atuam informalmente no gabinete de Silveira, participando de reuniões e conversas com autoridades e políticos.
Além disso, os secretários da pasta já nomeados – Thiago Barral, de Transição Energética, Gentil Nogueira (Energia Elétrica) e Pietro Mendes (Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), que também foi indicado para o conselho a Petrobras – ou foram subordinados ao almirante ou são ligados a ele.
No entorno de Lula, o que se diz é que Silveira “terceirizou” o ministério para o almirante. “Alexandre não montou equipe, acabou cercado pela equipe do governo anterior. Parece que hoje ele é dirigido por essa turma”, me disse um aliado não-petista do presidente da República.
Do mesmo grupo do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e de Davi Alcolumbre (União-AP), Silveira também é visto como um ministro do Centrão. Um de seus indicados para o conselho da Petrobras, Victor Saback, é considerado da cota de Alcolumbre.
Silveira negou que Albuquerque tenha influência sobre a formação de sua equipe. “O DNA do ministério é o DNA do governo Lula. Estamos buscando preencher os espaços com os melhores técnicos e com pleno alinhamento com o presidente. Estamos certos de que teremos bons resultados.” Quanto ao caso das jóias, disse apenas que não há vínculo com o ministério e afirmou que espera que o caso seja apurado e esclarecido.
Pela influência que detém hoje, Bento Albuquerque é visto como um dos personagens mais influentes do setor de energia brasileiro. Depois de deixar o ministério de Bolsonaro, ele se tornou conselheiro de Itaipu e também da empreiteira Odebrecht.
Antes de sair do cargo, porém, Albuquerque nomeou diversos diretores para o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e estatais como Nuclep, ENBPar e a usina de Itaipu – essas duas ainda dirigidas por integrantes da Marinha.
No fundo, é Albuquerque a razão pela qual o ministro Alexandre Silveira vem sendo atacado dia sim, outro também, por vários setores do PT. Seu envolvimento no caso das jóias dos Bolsonaro retidas na Receita Federal forneceu aos petistas uma arma que eles não esperavam – mas não hesitarão em usar.