Droga sintética de efeito alucinógeno e estrutura química semelhante ao LSD (ácido lisérgico), a “ALD-52” foi detectada pela primeira vez no Rio Grande do Sul. O procedimento foi realizado por técnicos do Instituto-Geral de Perícias (IGP) em parceria com pesquisadores da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
O entorpecente, em forma de selo de papel, havia sido apreendido em junho do ano passado na cidade gaúcha de Santiago (Centro-Oeste) e teve duas amostras encaminhadas à perícia. Por meio de profissionais, técnicas e equipamentos específicos a substância foi submetida a análises e comparações mediante cruzamento de dados. Houve dificuldade para se chegar a um resultado conclusivo.
O trabalho prosseguiu na UFCSPA, com a ajuda de um espectrômetro de alta resolução e que permitiu identificar de forma precisa a composição. “É muito satisfatório fazer a identificação de forma inequívoca e ter certeza da qualidade do nosso resultado” ressalta a perita criminal Milena Morsoletto. Amostras já haviam sido identificadas em São Paulo.
Características
Ao ser ingerida oralmente, a ALD-52 é metabolizada pelo fígado e biotransformada em LSD, passando a atuar da mesma forma que a droga tradicional, introduzida no Estado há mais de 50 anos. Dependendo da ação que causam no organismo, as substâncias são consideradas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como proscritas, tendo a comercialização proibida.
O LSD foi criado na década de 1950 para auxiliar no tratamento de pessoas com transtornos mentais. Na década de 1960 passou a ser utilizado de forma recreativa, em função de seu efeito alucinógeno.
No caso da ALD-52, o efeito também é prolongado: o indivíduo fica horas com todos os sentidos alterados, incluindo paladar, visão e audição mais sensíveis. “A pessoa não controla o que vai acontecer. Pode ter uma sensação prazerosa em algum momento, mas também pode ter ideias paranoicas de perseguição e surtos violentos”, alerta um dos técnicos. “O risco aumenta se for associado a outras drogas, como o álcool.”
Estratégias
Para a chefe da Divisão de Química Forense do IGP, perita Lara Soccol Gris, a descoberta da ALD-52 no Rio Grande do Sul é mais um indício do grande potencial do tráfico internacional de drogas para a exploração de novas substâncias psicoativas:
“Laboratórios clandestinos de química sintética localizados fora do Brasil têm investido na produção de substâncias mais potentes e com novas formulações, a fim de fugir do controle regulatório. Isso revela o tamanho do desafio de identificar essas substâncias, em função da grande variedade de coisas novas que aparecem”.
De todas as amostras já analisadas de selos de LSD no laboratório, estima-se que menos de 30% realmente possuam o ácido lisérgico na composição, fato que aumenta o risco à saúde do consumidor. Vale lembrar que em 2019, o IGP identificou outra droga, que causou a morte de um adolescente em Igrejinha (Vale do Paranhana).
Em 2021, o órgão recebeu cerca de 1.850 requisições para pesquisa de drogas contidas em comprimidos artesanais e selos. Apenas 52 eram LSD. Já no ano passado, foram 1.986 requisições da mesma categoria e o volume total de drogas analisadas chegou a 48.374 (a maioria maconha e cocaína.
(Marcello Campos)