O presidente Jair Bolsonaro prestará esclarecimentos à Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (5) a respeito dos pacotes de joias enviados como presentes pelo governo saudita ao ex-mandatário e sua mulher, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Além do ex-chefe do Executivo, que retornou ao Brasil na semana passada após três meses nos Estados Unidos, outras pessoas prestarão depoimento na mesma data, entre elas Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
A PF já ouviu outras pessoas envolvidas no episódio. O inquérito foi aberto no mês passado, após reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelar que integrantes do antigo governo haviam feito pressão para liberar um kit com joias apreendido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em 2021.
A Polícia Federal vê “indícios concretos” de que Bolsonaro atuou nas tentativas de reaver as joias. O ex-presidente nega ter havido qualquer irregularidade.
Entenda os depoimentos já tomados pelos investigadores.
1) Bento Albuquerque omitiu segundo pacote:
O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque foi ouvido em 14 de março. Bento foi o chefe da comitiva que recebeu os presentes da família real saudita em viagem a Riad realizada em outubro de 2021. Um desses presentes foi o conjunto de joias avaliado em R$ 16,5 milhões e que viria a ser encontrado na bagagem de um assessor do ministro.
Bento Albuquerque admitiu que não informou aos fiscais da Receita Federal que ele próprio portava um estojo de joias dado por autoridades da Arábia Saudita ao Estado brasileiro — segundo Bento, a caixa estava em sua bagagem porque não havia mais espaço nas malas de seu assessor.
O ex-ministro confirmou que, assim que percebeu que seu assessor havia sido parado pelos servidores do Fisco, retornou à área de alfândega para tentar a liberação das joias apreendidas, mas “não chegou a comentar que teria outra caixa na sua bagagem”.
O ex-ministro também disse que não avisou Bolsonaro sobre os presentes, e que só abriu o pacote em questão um dia depois de desembarcar em São Paulo. Esse estojo de joias ficou guardado por pouco mais de um ano no cofre do Ministério de Minas e Energia, até ser entregue à Presidência.
2) Ex-assessor diz que recebeu presentes em hotel:
O ex-assessor flagrado com as joias na mochila era o primeiro-tenente da Marinha Marcos André dos Santos Soeiro. À PF, o militar explicou como recebeu os pacotes na viagem à Arábia Saudita. Ele contou que Bento Albuquerque participava de um jantar com representantes do governo local quando um emissário do príncipe foi ao ao hotel onde a comitiva brasileira estava hospedada, já por volta de meia-noite. Ele levou duas caixas embrulhadas em papel especial com brasão da família real e disse que os presentes deveriam ser entregues ao então ministro de Minas e Energia.
Soeiro telefonou para Albuquerque, que ainda estava no jantar oficial, para informar que “as caixas chegaram e estavam lacradas”.
3) Soeiro diz que precisou pagar “excesso de bagagem”:
O ex-assessor do ministro afirmou que precisou pagar excesso de bagagem para trazer ao país “tantos presentes” ofertados pelo governo saudita ao Estado brasileiro. Disse que o seu carrinho de bagagens tinha “tantas malas e caixas que ficava acima da sua cabeça, o que nunca tinha acontecido”.
4) Ordem de assessor presidencial:
Em 29 de dezembro de 2022, faltando dois dias para o fim do mandato de Bolsonaro na Presidência, o primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva foi enviado ao Aeroporto de Guarulhos para tentar a liberação das joias apreendidas pela Receita Federal.
Em seu depoimento à PF, Jairo disse que viajou a São Paulo em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB) por ordem do tenente Cleiton Henrique Holszchuk, então assessor do tenente-coronel Mauro Cid.
Jairo Moreira disse que foi informado pelo tenente Cleiton que iria “pegar alguns presentes que estavam retidos na alfândega” e que deveriam ser levados para Brasília.