O presidente Lula (PT) completou nessa segunda-feira (10) 100 dias de governo no atual mandato. Período de turbulência, marcado por conflitos e polêmicas. Houve anúncio da retomada de programas das gestões petistas, como o Bolsa Família, que voltou com esse nome, e o Mais Médicos. Foi período de embates com o Banco Central por causa da taxa de juros, e também declarações que causaram turbulências. Também houve os ataques de 8 de janeiro, e as investigações que se seguiram. A crise de saúde do povo Yanomami e período de dificuldades na economia.
Veja, a seguir, a análise de quais as boas e as más notícias do começo de governo Lula:
A jornalista Andréia Sadi cita que o governo Lula começou tendo de “enfrentar uma crise bastante tumultuada, que foi a reação aos atos golpistas de janeiro”. Ela considera positiva a reação do governo (“bastante enérgica, reafirmando a democracia, chamando as autoridades competentes à responsabilidade”).
A colunista analisa como desfavorável a postura de Lula ao transformar a discussão sobre a queda de juros em uma “questão pessoal com Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central]”.
Ela também crê ser um erro a opção do presidente de “chamar para briga” o ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil-PR). Segundo ela, os embates com o ex-ministro de Jair Bolsonaro e as críticas a Campos Neto significam “brigar para baixo, no caso do presidente da República”.
Para Julia Duailibi, uma surpresa positiva foi a retomada de programas sociais, “que era uma demanda importante diante da crise”. Na análise dela, o governo conseguiu se articular para resgatar marcas dos primeiros mandatos de Lula e até mesmo da gestão Dilma. Segundo a avaliação, essa era “uma questão de urgência”, à qual o governo conseguiu responder.
Neste início de mandato, afirma a colunista, Lula deu declarações que “acabaram jogando contra o próprio governo”. Ela cita como exemplo o gesto de “alçar antagonistas, como Sergio Moro, à condição de “adversário real”.
Nas questões econômicas, também houve declarações do presidente que representaram “um tiro no pé” do governo, afirma Julia.
Para Octavio Guedes, “o que mais surpreendeu positivamente foi a rapidez com o que o governo Lula entendeu como se daria a tentativa de golpe” e “decretou uma intervenção federal civil no DF”. Segundo o colunista, em lugar de um golpe como 1964, seria “um pedido de ajuda aos militares para se tornar um governo fraco, tutelado pelas Forças Armadas”.
Para ele, “a surpresa negativa é que este é um governo em que poucas autoridades transparecem alegria; a maioria é sempre irritada, como se o governo tivesse saído de uma grande crise de enxaqueca”, afirma Guedes. Ele cita como exemplo “declarações raivosas”, inclusive de Lula. “Eu só vejo três pessoas transmitido alegria, paz e serenidade para a nação: a Janja, que é a primeira-dama, o [vice-presidente Geraldo] Alckmin e o [ministro da Justiça Flávio] Dino.”
Na visão de Valdo Cruz, Lula “acertou, e muito, na área social e na área ambiental”, ao trazer “um clima de civilidade ao país, focando nas famílias mais vulneráveis e mostrando que o Brasil está de volta, no campo internacional, para debater as mudanças climáticas”.
O colunista analisa que Lula “errou, e errou feio, exatamente na área em que ele é um craque, na política”. “Em vez de pacificar, ele andou polarizando não só com o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas também com o ex-ministro Sergio Moro.”
Para Valdo, Lula tropeçou em seus discursos sobre economia. “Enquanto [o ministro da Fazenda] Fernando Haddad busca acertar o passo e resgatar a credibilidade econômica, Lula vai na direção contrária, ataca uma instituição – e no estilo Bolsonaro, desferindo alfinetada na direção de Roberto Campos Neto”.
Segundo o colunista, os juros vão acabar demorando a cair, “por conta dos ruídos produzidos pelo próprio presidente da República”.
Para Ana Flor, a volta da política como meio de diálogo e negociação entre forças opostas da sociedade e do poder é um dos pontos positivos do novo governo do petista. “Lula, desde sua eleição, ressaltou em seus discursos a importância da boa relação com o Congresso, com governadores e prefeitos, e escalou nomes de confiança para fazer sua articulação política.”
A colunista aponta os deslizes de Lula ao adotar algumas posições radicais como ponto negativo dos primeiros 100 dias do novo governo. Isso demonstraria o abandono da ideia de frente ampla, que foi o que o elegeu. “Ataques ao Banco Central, a fulanização das críticas no presidente do BC, Roberto Campos Neto, ou a ameaça de gastar capital político desfazendo medidas aprovadas pelo Congresso Nacional, como a privatização da Eletrobras ou mudança no marco do saneamento, demonstram um Lula muito mais radical do que o de 2003.”