Dados do Portal da Transparência apontam que Marinalva Barros, esposa do ex-major do Exército Ailton Barros, preso pela Polícia Federal (PF) na última quarta-feira (4), recebe pensão militar de R$ 22,8 mil. Ailton foi detido na Operação Venire, que investiga suposto esquema de fraudes em dados do Ministério da Saúde para adulterar informações de cartões de vacina contra a covid. Entre os supostos beneficiados pelo esquema está o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com a página do governo federal, Marinalva recebe o benefício como viúva. Isso ocorre porque Ailton foi expulso da corporação. De acordo com o Exército, os sistemas de informática da autarquia o registram como “morto” por questões burocráticas.
Em 2006, o Superior Tribunal Militar (STM) expulsou Ailton Barros do Exército, por unanimidade. A lista de transgressões às regras militares foi longa e incluiu uma acusação contra o então capitão por atropelar de propósito um soldado do Exército em 1999. Na decisão do STM, há uma menção a um suposto abuso sexual de Barros contra uma mulher em um acampamento militar em Natal (RN). Esse crime não foi analisado por questões processuais.
De acordo com o Portal da Transparência, a “viúva” de Ailton, Marinalva Leite da Silva Barros, recebe a pensão desde 2008. O último registro do portal aponta que, em fevereiro deste ano, a remuneração bruta era de R$ 22,8 mil. Com descontos como o Imposto de Renda Retido na Fonte (IRPF) e o fundo de saúde, o valor após deduções foi de R$ 14,9 mil. Em novembro de 2022, ela chegou a receber R$ 11 mil a mais devido à gratificação natalina. Veja:
Zero 1
Advogado e militar da reserva, Ailton Gonçalves Moraes Barros foi um dos presos preventivamente na Operação Venire da Polícia Federal, que investiga um possível esquema de fraudes em dados de vacinação da covid nos sistemas do Ministério da Saúde.
Os investigadores suspeitam que ele foi quem conseguiu lançar os dados falsos na plataforma para beneficiar a mulher do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto.
Nascido em Alegrete, no Rio Grande do Sul, Ailton foi para o Rio de Janeiro ainda na infância. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele tem 61 anos, é major reformado e detém um patrimônio declarado de R$ 388 mil. Nas redes sociais, ele se intitula como Oficial da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e paraquedista militar e civil.
A primeira tentativa de Barros de entrar na política foi em 2006, quando disputou uma cadeira de deputado federal do Rio de Janeiro pelo PFL. Em 2020, ele concorreu a uma vaga de vereador na cidade fluminense pelo PRTB, mas também não foi eleito. Em 2022, quando foi candidato a deputado estadual pelo PL, não foi eleito novamente e acabou ficando como suplente. Na eleição do ano passado, inclusive, ele se apresentava como o “01 de Bolsonaro”.
Caso Marielle
Ailton é apontado como uma espécie de intermediário de um braço do esquema junto à prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo a Polícia Federal, ele teria levantado lotes enviados ao Rio de Janeiro e cadastrado duas doses da Pfizer em nome de Gabriela Santiago Ribeiro Cid, mulher do tenente-coronel Mauro Cid. O advogado também conseguiu um cartão físico de vacinação para a mulher de Mauro Cid.
Após o ‘êxito’, Ailton pediu uma ‘contrapartida’ a Cid: que o aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro intermediasse encontro cujo tema seria o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco – crime ocorrido em 2018. A ideia era um encontro com o cônsul dos Estados Unidos para resolver problema relacionado a seu visto – ligado ao envolvimento do nome do ex-parlamentar com o caso Marielle.
A permuta entre Ailton e Cid é descrita pela Polícia Federal com base em mensagens trocadas entre os dois pelo celular. Em uma mensagem enviada ao coronel, Ailton afirma: “Eu sei dessa história da Marielle toda, irmão, sei quem mandou. Sei a porra toda. Entendeu? Está de bucha nessa parada aí.”