Mesmo na era de resenhas de produtos e serviços turbinadas por inteligência artificial, os conselhos dados por influencers da vida real sobre praticamente tudo – o que fazer, o que cozinhar, para onde viajar e o que comprar – ainda têm valor. E muito valor. Nesta semana, enquanto as atenções do mundo tech estavam voltadas para os lançamentos do Google que incorporam a inteligência artificial generativa (sobretudo o chatbot Bard, rival ChatGPT da Microsoft), a empresa anunciou uma nova funcionalidade que quase não foi notada.
Trata-se de uma nova aba nas suas buscas chamada “Perspectives” (ou perspectivas, numa tradução livre). Agora, quando um usuário fizer uma pesquisa sobre certos assuntos, como compras, viagens e conselhos do tipo “como fazer isso ou aquilo”, o Google vai oferecer entre as respostas links com vídeos do YouTube de influencers sobre esses temas.
É o Google tentando ganhar espaço num universo hoje dominado por Instagram e, cada vez mais, o TikTok.
Se para os internautas com mais de 30 anos a busca por alguma informação é satisfatoriamente respondida em forma de texto, para quem nasceu na era das mídias sociais (os millenials ou a Geração Z), palavras não são suficientes. Quando querem tomar decisões simples, como “para onde viajar”, “o que comprar”, esses jovens querem ver vídeos fazendo resenhas de produtos ou vlogs que descrevem destinos paradisíacos.
É uma estratégia para ganhar terreno numa arena já dominada pelo TikTok, que se tornou, na prática, uma ferramenta de buscas para os jovens. O aplicativo recentemente criou uma função nos EUA para que as marcas possam vender produtos por meio dos vídeos publicados na sua plataforma – estratégia já adotada, com sucesso, em Cingapura.
A Amazon também tenta não ficar para trás. Nesta semana, a varejista lançou nos EUA seu próprio feed de vídeos e fotos com opção de compra, que ganhou destaque na tela de abertura de seu aplicativo.
O conteúdo é tanto de usuários (as tradicionais resenhas de produtos, só que em formato de vídeo) como de influencers, e apresenta os produtos que podem ser comprados, a partir do vídeo, com apenas um clique na tela.
Meta na contramão
A Meta, empresa que ajudou influencers no Instragram a se transformarem numa indústria bilionária, tem dado menos atenção à onda dos vídeos. Atualmente, o CEO da companhia, Mark Zuckerberg, está focado em reduzir custos e em projetos que deem retorno.
O executivo está concentrado nos negócios que envolvem inteligência artificial e realidade virtual, especialmente no metaverso. Segundo pessoas próximas à empresa, investir em projetos que impulsionem vendas pelas plataformas não está entre as prioridades.
O feed do Instagram para conteúdo “comprável”, chamado Shop Tab, costumava estar sob holofotes em 2020, quando começou a pandemia, para facilitar as compras por meio do aplicativo. Ficava na página principal da rede social. Mas foi removido em janeiro deste ano.
Um mês depois, o live commerce foi suspenso no Instagram, de modo que a companhia pudesse “focar em produtos e recursos que agreguem mais valor”, disse a Meta na época.
O mais recente anúncio da Meta relacionado ao consumo de vídeos pelos usuários envolve mudança no modelo de pagamentos dos seus vídeos curtos, os Reels. Nesta semana, a empresa anunciou que iniciaria um teste para que criadores de conteúdo fossem remunerados com base no número de vídeos que eles postam e são vistos.
Uma tentativa de estimular esses profissionais a se empenhar na produção dos vídeos e atrair usuários do TikTok.