A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPMI (comissão parlamentar mista de inquérito) que investiga os atos extremistas de 8 de janeiro em Brasília, afirmou nesta terça-feira (6) que a ação dos vândalos não começou efetivamente no dia da depredação das sedes dos Três Poderes, mas após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas.
Eliziane deu a declaração durante a sessão destinada à apresentação e votação do plano de trabalho da comissão. Após a eleição de Lula, de acordo com ela, foram disseminadas nas redes sociais teses que contestaram o resultado das urnas e houve também atos de vandalismo em Brasília, praticados por apoiadores do então presidente Jair Bolsonaro (PL).
“O dia das depredações não começou à meia-noite de 8 de janeiro de 2023, mas muito antes, em uma sucessão de eventos, para dizer, no mínimo, de exaltação de ânimos. Pairava entre os vândalos o sentimento de negação do resultado da eleição presidencial, proclamado pela Justiça Eleitoral em 30 de outubro do ano anterior”, afirmou a relatora.
“As notícias disseminadas nas redes sociais pela parcela da sociedade que não aceitava a vitória do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tinha intento de construir a realidade a partir de sua perspectiva particular, semeando crenças e sentimentos conspiratórios de todas as ordens”, acrescentou Eliziane.
Diante disso, a relatora informou que, durante o andamento da CPMI, também deverão ser chamados a depor os financiadores dos atos de 8 de janeiro, assim como pessoas envolvidas em outros atos, como os de 12 de dezembro, quando vândalos tentaram invadir o prédio da Polícia Federal em Brasília e causaram destruição no centro da capital federal, e os de 24 de dezembro, quando um artefato explosivo foi instalado em um caminhão no aeroporto de Brasília.
Na sessão anterior da CPMI, a deputada Duda Salabert (PDT-MG) já havia defendido que, além dos “peixes pequenos”, a comissão fosse atrás dos “tubarões”, isto é, financiadores e organizadores dos atos, segundo ela.
Linhas de investigação
O plano de trabalho apresentado pela relatora da CPMI possui as seguintes linhas de investigação:
– Segundo turno das eleições e manifestações nas rodovias federais: a CPMI irá investigar a atuação do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, e do então diretor da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques.
– 8 de janeiro: serão apurados o planejamento e a atuação dos órgãos de segurança pública da União e do Distrito Federal no evento, bem como atuação de Anderson Torres como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal. A comissão também pretende identificar os mentores, financiadores e executores dos atos contra as sedes dos Três Poderes.
– Ataques à PF e no aeroporto: a comissão irá investigar os ataques que aconteceram à sede da Polícia Federal, em 12 de dezembro de 2022, e também à tentativa de explodir um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília, em 24 de dezembro.
– Acampamentos no QG do Exército: a CPMI pretende identificar os mentores e financiadores dos acampamentos que foram montados no Quartel-General do Exército na capital federal.
– Resultado das eleições: a comissão também pretende apurar as manifestações públicas e em redes sociais de agentes políticos contra o resultado das eleições.
– Tenente-coronel Mauro Cid: a CPMI pretende ainda identificar as supostas ligações de de Cid com pessoas envolvidas nos atos de 8 de janeiro e com eventuais conspirações golpistas.
– Forças Armadas: a comissão pretende apurar a atuação e a relação das Forças Armadas com os acampamentos no QG do Exército.