Deputados estaduais ouviram nessa terça-feira (6) os depoimentos de alunos cotistas que pretendem reverter a decisão que os desligou da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O grupo é composto por calouros que teriam enfrentado dificuldades no processo de encaminhamento da documentação exigida para ingresso na instituição, onde contavam com matrículas provisórias.
Eles foram recebidos pelos integrantes da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa, presidida por Sofia Cavedon (PT). A iniciativa de chamá-los ao colegiado partiu de Luciana Genro (Psol).
Ao todo, cerca de 160 cotistas por critério racial ou de baixa renda tiveram o vínculo rompido com a universidade no início do mês. Motivo alegado: o não atendimento a critérios estabelecidos para essa modalidade de seleção. Os estudantes rebatem, atribuindo o caso a problemas como o tempo escasso para comprovação documental e aferições on-line supostamente mal realizadas.
Relatos
Adriana Rodrigues narrou sua trajetória até ingressar na Faculdade de Filosofia. Ela mencionou razões médicas para não ter comparecido à junta de Verificação da Autodeclaração Étnico-Racial e sugeriu que cotistas foram vítimas de perseguição pela universidade.
“Fui à UFRGS e simplesmente me mandavam para lá e pra cá. Foi um desespero ao descobrir que minha convocação para matrícula acabou enviada para um spam [espaço da conta de e-mail responsável por filtrar propagandas indesejadas e outras mensagens ]”.
Também contou sua história Abgail Ferreira, aprovada no ano passado para Medicina Veterinária ao se encaixar duplamente no perfil exigido – cursou o Ensino Médio no sistema público de ensino e dispõe de renda familiar baixa. Ela considera curto o prazo de cinco dias para apresentação de aproximadamente 100 documentos exigidos e quer ser ouvida pela UFRGS, a fim de reverter o processo.
Giácomo de Carli da Silva, desligado da Faculdade de Direito, acrescentou o que considera como “falta de acolhimento” pela UFRGS aos cotistas que obtiveram a vaga por sofrerem com deficiência. Sua advogada também se pronunciou, acusando a instituição de perseguir os cotistas de todas as modalidades.
Manifestações
Após os depoimentos, Sofia Cavedon ponderou que a ideia das cotas é acolher, acompanhar e incluir. “Parecer, no entanto, que a Universidade faz o inverso do que deveria”, questionou.
A parlamentar propôs o envio de um documento ao Conselho Universitário (Consun) da UFRGS para questionar o que ela considera como “morosidade, falta de transparência e falta de participação efetiva dos representantes dos cotistas no acompanhamento desses processos. Ela questiona, ainda, a existência de matrículas provisórias.
Sua colega Luciana Genro definiu como “lamentável” a decisão da UFRGS. “Estão negando aos cotistas o direito de estudar, justamente em um momento de forte evasão escolar”, salientou. A parlamentar sugeriu uma audiência com o reitor da Universidade para tratar do assunto. Também sugeriu a elaboração de um requerimento para reverter a situação.
(Marcello Campos)