Embaixador do Brasil na Alemanha, a maior economia da União Europeia, Roberto Jaguaribe avalia que “tudo pode impactar” na imagem do país, quando perguntado sobre as ameaças internas de retrocesso na área ambiental. Não considera, contudo, que o cenário seja preocupante – pelo contrário. O ex-presidente da Apex pinta um ambiente global de otimismo com o Brasil, numa mudança que diz ser nítida desde que assumiu a embaixada, em 2018.
“Existe uma convergência crescente. A relação com a Europa, e com a Alemanha em particular, é como se antes tivessem criado um açude para conter a água durante muitos anos. Só saía um ‘triscozinho’. De repente liberaram as comportas e agora é um jorro”, compara. “Há uma explosão de interesse, que vem junto com a credibilidade elevada do Brasil na Europa, inclusive na questão ambiental. O Brasil estava com dificuldades, o termo ‘pária’ foi utilizado algumas vezes. Agora, o Brasil está no eixo da atenção e dos interesses.”
Apesar do otimismo externo, o governo enfrenta em Brasília o esvaziamento dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Originários, além da aprovação do marco temporal das terras indígenas. As pautas colocam em xeque o discurso de defesa do meio ambiente, prioridade da comunidade internacional.
Jaguaribe está no Rio para a Conferência de Segurança Internacional do Forte, que ocorre a partir de hoje no Museu do Amanhã. Diante de uma ordem global em mutação, tema do evento, o presidente Lula tenta ser mediador do fim da guerra da Ucrânia, mas a declaração errática sobre o país invadido causou repercussão global negativa. Para o diplomata, frases como aquela e a recente sobre a Venezuela são “imprecisas” e despertam “leituras equivocadas”, mas não têm potencial para manchar a compreensão sobre o país no mundo.
“O objetivo central é sabido, e o Brasil é um país que se atenta totalmente ao respeito de fronteiras internacionais, ao direito internacional. Nenhuma pessoa com bom senso vai questionar a legitimidade dessa perspectiva”, opina. “Em todas as instâncias em que a guerra foi submetida a voto multilateral, o Brasil condenou a invasão. Quem quiser tirar ilações equivocadas pode fazer o que quiser. O Brasil tem uma característica da qual não abre mão: é um país que tem condições, interesse e capacidade de se relacionar com todos os demais.”
O conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) alega que a eleição de Lula, para a política externa, só trouxe benefícios. “É claro que há uma lupa para fazer uma análise muito minuciosa e sempre vão querer criar problemas com A, B ou C, mas a verdade é que há um entendimento amplo que passa por cima de pequenas arestas.”
Ao analisar o interesse europeu na pauta ambiental, peça-chave do impasse para a assinatura do acordo com o Mercosul, Jaguaribe afirma que há uma “narrativa” exagerada do lado de lá do Atlântico. “Há equívocos. Alguns deles nem tão ingênuos, mas a maior parte por desconhecimento e por uma tendência natural de achar que sabe mais das coisas do que o resto do mundo, que é uma questão muito europeia”, critica.
Essa narrativa, diz, é a de que a Europa está na linha de frente da sustentabilidade – o que seria verdade quanto à atenção dedicada ao tema, mas não na atuação em si. Apesar do olhar crítico sobre o discurso europeu, o embaixador demonstra otimismo com a assinatura do acordo entre os dois blocos. Quando o ministro da Economia alemão esteve no Brasil, conta, disse-lhe que saiu com a percepção de que a falta de alternativa econômica prejudicava o meio ambiente.
“A pobreza é um extraordinário inimigo da sustentabilidade. É preciso gerar riqueza de formas sustentáveis, senão há um recuo inevitável para as formas ilegais, já que é preciso gerar alguma coisa”, diz Jaguaribe. “Ele entendeu que o acordo propicia mais capacidade de geração de capacidade econômica e, portanto, tem impacto positivo sobre o meio ambiente.”