Além dos grupos educacionais, os hospitais também querem abrir faculdades de medicina – um mercado que movimenta cerca de R$ 12 bilhões. Os hospitais Sírio-Libanês, BP-Beneficência Portuguesa, Moinhos de Vento e Rede D’Or já estão com projetos em andamento para criar, inicialmente, graduações na área da saúde e na sequência medicina, um curso com processo mais burocrático dentro do Ministério da Educação (MEC).
O interesse dos hospitais em ter uma faculdade de medicina se intensificou com a publicação de uma portaria do MEC, no dia 5 de maio, reabrindo o programa Mais Médicos, que é o caminho oficial para ter cursos de medicina no país. Nos últimos cinco anos, havia uma moratória proibindo a criação de novas vagas dessa graduação, o que acabou postergando muitos projetos.
No edital anterior do Mais Médicos, de 2014, apenas o Hospital Albert Einstein conseguiu ser aprovado no programa do governo federal. Aberto há apenas sete anos, o curso de medicina se tornou uma referência, com uma média de 68 candidatos por vaga e mensalidade de R$ 10,4 mil. Esse feito fez os demais hospitais cobiçarem uma faculdade de medicina que ainda possibilita absorver para dentro de casa os melhores alunos.
“Hospitais privados também devem ofertar aula prática no SUS, que tem outra realidade”, disse Henrique Silveira, advogado especializado em educação e sócio do escritório Mattos Filho.
A promessa do MEC é publicar o próximo edital do Mais Médicos no começo de agosto. O programa traz regras específicas para os hospitais que podem erguer suas faculdades nas praças em que estão instalados, que em geral ficam nos grandes centros. É diferente dos grupos de ensino que só podem abrir cursos de medicina em regiões determinadas pelo governo, que escolhe as regiões mais carentes de médicos.
“Como uma das exigências do Mais Médicos é que os hospitais ofertem uma residência com, no mínimo, dez especialidades, é natural que o hospital escolhido seja aquele localizado numa cidade grande, uma vez que nas regiões mais carentes faltam médicos e, consequentemente, não há residências”, disse Henrique Silveira, advogado especializado em educação e sócio do escritório Mattos Filho.
Segundo Silveira, apesar de os hospitais privados poderem usar sua própria estrutura para aulas práticas é obrigatório que parte do curso seja na rede pública. “O aluno precisa vivenciar todas as realidades, e o volume de atendimentos no SUS é muito maior”, disse.
O Sírio-Libanês conseguiu, neste mês, o credenciamento do MEC para abrir uma instituição de ensino superior. A ideia é começar em novembro com graduação de enfermagem, fisioterapia, nutrição e psicologia, e solicitar o pedido de abertura de medicina entre 2023 e 2024. “O projeto vai demandar investimento inicial de R$ 40 milhões e outros R$ 20 milhões para medicina”, disse Paulo Nigro, CEO do Hospital Sírio-Libanês. “Temos uma estrutura hospitalar privada e pública para os alunos. Haverá muito aprendizado prático integrado às tendências tecnológicas”, completou Fernando Ganem, diretor-geral do Sírio.
A BP também está destinando R$ 60 milhões para a abertura de uma faculdade, cujo pedido já foi protocolado no MEC. A meta é ter 700 alunos na faculdade em seus diversos cursos e uma receita de R$ 200 milhões quando as primeiras turmas estiverem se formando. A previsão é que a medicina seja aberta entre 2026 e 2027. “A estratégia é que o aluno comece pela graduação ou ensino técnico, faça residência e as especializações conosco em toda a sua carreira”, disse Denise Santos, presidente da BP.
A Rede D’Or pretende ofertar os cursos de medicina por meio do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), que já abriga uma faculdade com três cursos e é referência em pesquisas científicas. “O projeto é que a graduação de medicina esteja atrelada ao Hospital Glória D’Or, no Rio, que tem muitos programas de residência”, contou Fernanda Tovar-Moll, presidente do Instituto D’Or. No longo prazo, há possibilidade de abertura de faculdades em outras praças, como São Paulo.
O Moinhos de Vento, de Porto Alegre, também tem no radar a medicina. “Já temos uma faculdade de ciência da saúde desde 2018. Quanto ao curso de medicina, estamos planejando um projeto mais cuidadoso, com diferenciais”, disse Mohamed Parrini, CEO do Moinhos.