As paralisações realizadas por montadoras no primeiro semestre deste ano a fim de ajustar a produção de veículos à demanda mais fraca tiveram um efeito dominó na cadeia produtiva do setor.
Nem as 14 vezes em que as empresas cruzaram os braços, entre janeiro e junho, conseguiram evitar a redução de ritmo de produção e a recorrer a férias coletivas, layoff (suspensão temporária dos contratos de trabalho) e redução de turnos para evitar demissões.
Por enquanto, ainda não se nota impacto no emprego, mas essa preocupação existe entre os fabricantes de peças.
A situação das montadoras também preocupa o governo federal. O Palácio do Planalto foi responsável pela criação de um programa de R$ 1,5 bilhão, destes, R$ 500 milhões em créditos tributários para carros de até R$ 120 mil.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, admitiu que um dos objetivos é evitar paralisações e demissões no setor. Conforme Alckmin, a categoria emprega 1,2 milhão de pessoas.
Apenas no ABC paulista, onde há quatro montadoras (Volkswagen, General Motors, Mercedes-Benz e Scania), pelo menos nove empresas de autopeças tiveram de adequar sua produção, afetadas pela redução de ritmo nas fábricas.
O levantamento é do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, com base em acordos feitos entre essas empresas e a entidade. O sindicato tem uma base de 68 mil metalúrgicos, sendo aproximadamente 21,5 mil no setor de autopeças.
“Não tivemos demissões, apenas alguns programas de demissão voluntária (PDV). As empresas buscaram flexibilizar a produção com layoffs, férias coletivas e uso de bancos de horas. Mas o cenário preocupa porque os juros altos afetam as vendas de veículos, e as famílias estão endividadas”, diz Wellington Messias Damasceno, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Em cidades como São José dos Campos e Taubaté, no interior de São Paulo, que também concentram fábricas de autopeças, os sindicatos de metalúrgicos locais relatam que pelo menos cinco empresas optaram por férias coletivas para ajustar a produção.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, reitera que algumas montadoras cancelaram layoffs com o anúncio do pacote de estímulo do governo federal ao setor. É o caso da Volks, por exemplo, que suspendeu o layoff previsto para o início de junho na fábrica de Taubaté.
Leite ressalta que a produção subiu 27% em maio frente a abril, mas as vendas caíram, e o estoque das montadoras está elevado.
“Então, é natural que elas estejam trabalhando para equilibrar sua produção”.
A GM anunciou esta semana que toda a unidade de São José dos Campos terá dez dias de paralisação remunerada, além de férias coletivas para o setor de transmissão. A unidade de Gravataí, no Rio Grande do Sul, também vai parar suas atividades por dez dias.
Enquanto a Renault vai parar a produção por uma semana em São José dos Pinhais (PR).
A produção de veículos no país no primeiro semestre deste ano somou 942,8 mil unidades, acima do registrado no mesmo período de 2022, quando houve escassez de componentes, mas abaixo do nível pré-pandemia. Neste ano, a expectativa é fabricar 2 milhões de unidades