O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) denunciou à Justiça seis pessoas por tortura e extorsão contra dois homens em um supermercado de Canoas (Região Metropolitana de Porto Alegre). No dia 12 de outubro do ano passado, a dupla teria sido alvo de retaliação após serem flagradas furtando carne no estabelecimento, localizado no bairro Marechal Rondon.
De acordo com a promotoria, os denunciados impuseram “profundo sofrimento físico e mental” por meio de agressões sistemáticas e graves ameaças. O objetivo era punir os suspeitos (de 32 e 47 anos, um deles negro e o outro branco), fazer com que confessassem terem subtraído produto em ocasiões anteriores ao “flagrante” e aterrorizá-los para que não voltassem a cometer furtos.
Um dos supostos autores do furto apanhou tanto que chegou a ficar em estado grave. Imagens registradas por uma câmera de segurança do próprio estabelecimento mostram a ação, que inclui o uso de arma-de-fogo para intimidar os dois e obrigá-los a entregar quantia em dinheiro – a título de “compensação” pela carne que teriam levado sem pagar.
A empresa, pertencente a uma rede do segmento, repercutiu a denúncia por meio de um breve comunicado à imprensa: “Reafirmamos o nosso compromisso com o respeito à vida e à dignidade da pessoa, bem como nossa disposição para seguir colaborando integralmente com as autoridades”.
Também pesaram contra o grupo as manifestações durante a sessão de espancamento: além de gargalharem com o sofrimento dos dois homens, eles tiraram selfies “comemorativas” depois de encerrarem as agressões a ameaças.
Foram denunciados dois seguranças, dois ex-funcionários que na época trabalhavam na gerência do supermercado e dois policiais que depois acabaram afastados de suas funções na Brigada Miliar (também investigado, um terceiro integrante da corporação faleceu cinco meses após o incidente).
Se a denúncia do MP-RS for aceita pela Justiça, os envolvidos se tornarão réus. Por enquanto, eles aguardem em liberdade o andamento do processo – exceto um deles, que morreu meses após o incidente.
Similaridade
O caso é semelhante ao registrado em Caxias do Sul (Serra Gaúcha) no dia 16 de março e que também foi alvo de denúncia do MP-RS no início deste mês. A situação envolve o dono de um mercado, que teria torturado uma criança de 11 anos e um adolescente de 13. O crime foi relatado à Polícia Civil por uma testemunha que conseguiu filmar o incidente.
Conforme o inquérito, as vítimas são meninos flagrados ao supostamente furtar produtos de uma prateleira do estabelecimento do qual o agressor é dono. Ele teria agredido e ameaçado os guris com uma faca, contando para isso com a ajuda de um funcionário do estabelecimento.
Também é acusado de obrigar um dos garotos a lamber o chão de um dos corredores do mercado, onde a dupla de menores foi encurralada. A pressão psicológica fez com que o menino se urinasse no local.
“O homem submeteu os menores a intenso sofrimento físico e mental, como forma de obter informação, declaração ou confissão”, sublinhou o promotor João Francisco Ckless Filho.
(Marcello Campos)