A nomeação do coronel Jean Lawand Junior para a Representação Diplomática do Brasil nos Estados Unidos, em Washington está sob avaliação do comandante do Exército, general Tomás Paiva.
A decisão de anular a indicação seria uma reação após a Polícia Federal (PF) identificar uma série de troca de mensagens em que o militar sugeria ao ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, que auxiliasse o então presidente a “dar uma ordem” para ação das Forças Armadas contra a eleição de Lula (PT).
As conversas entre Lawand e Cid foram reveladas pela revista Veja.
“Cidão, pelo amor de Deus, faz alguma coisa. Convence ele a fazer. Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O presidente [Bolsonaro] vai ser preso, E, pior, na Papuda”, escreveu Lawand.
Em seguida, Cid respondeu: “Mas, o PR [Presidente da República] não pode dar uma ordem se ele não confia no ACE [Alto Comando do Exército]”.
O Exército não costuma abrir processos administrativos nestes casos, por considerar que o caso precisa antes ser analisado pelas instâncias judiciárias.
A revelação de diálogos envolvendo um militar da ativa foi avaliada dentro do Ministério da Defesa como uma situação delicada.
A PF encontrou no celular do tenente-coronel Mauro Cid, a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). A GLO é um instrumento jurídico que permite ao presidente da República convocar as Forças Armadas em momentos de perturbação da ordem pública.
“O investigado compilou estudos que tratam da atuação das Forças Armadas para Garantia dos Poderes Constitucionais e GLO. Os documentos tratam da possibilidade do emprego das Forças Armadas, em caráter excepcional, destinado a assegurar o funcionamento independente e harmônico dos Poderes da União, por meio de determinação do Presidente da República”, diz o relatório da Polícia Federal.
As mensagens mostram que Cid compartilhou um documento com instruções para declaração de Estado de Sítio diante de “decisões inconstitucionais do STF”.
O coronel Jean Lawand Junior é atualmente supervisor do Programa Estratégico Astros do Escritório de Projetos do Exército, do Estado-Maior da Força.
Lawand formou-se na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1996, com a melhor nota entre os cadetes da turma Bicentenário da Inconfidência Mineira. Durante os quatro anos de formação, ele esteve ao lado do atual governador de São Paulo, Tarcísio Freitas.
Durante a carreira, o coronel passou por áreas ligadas a mísseis e foguetes, currículo que o credenciou para assumir a supervisão do Programa Astros, considerado um dos principais projetos estratégicos do governo.