O Itaú Unibanco reconheceu, em nota, que alterou a forma como reportava as operações de risco sacado da Americanas nas chamadas cartas de circularização para os auditores da empresa a partir de 2018, mas ponderou que não ocultou as transações com a empresa.
De acordo com o banco, foram excluídas as operações contratadas por fornecedores, uma prática que começou a ser adotada pelo mercado naquele momento. No entanto, a instituição passou a colocar no documento a informação de que fazia antecipação de recebíveis emitidos contra a empresa. Esse dado, afirmou o Itaú, permitia que “as empresas de auditoria conhecessem sua existência e questionassem sobre seu saldo, caso necessário”.
O banco também reiterou que não tem responsabilidade pelas demonstrações financeiras de um cliente.
“O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é responsabilidade exclusiva da companhia e de seus administradores. É leviano atribuir a terceiros a responsabilidade pela fraude, confessada pela companhia ao mercado no dia de hoje”, afirmou no texto.
Em depoimento à CPI da Americanas, nesta terça, o atual presidente da varejista, Leonardo Coelho Pereira, mostrou trocas de e-mails de ex-executivos da empresa segundo os quais Itaú e Santander alteraram as cartas de circularização, passando a omitir informações sobre o risco sacado.
Sacado x emitido
Numa delas, de setembro de 2017, um executivo chamado Felipe Rodrigues afirma a colegas da Americanas que o Itaú propôs uma “suavização” do termo risco sacado, trocando-o por risco emitido.
De acordo com esse e-mail, a redação proposta pelo Itaú ficaria assim: “O Itaú Unibanco possui plataforma para aquisição de recebíveis comerciais de fornecedores, emitidos contra a companhia, avaliando individualmente cada operação e tomando a decisão de realizar ou não a antecipação dos recebíveis diretamente aos fornecedores”.
A mudança se deu no contexto de uma discussão mais ampla que acontecia naquele momento no mercado, após a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgar parecer de orientação sobre as situações em que o risco sacado deveria ficar na conta de fornecedores e em quais deveria ser classificado como dívida.
Outras varejistas pediram aos bancos que passassem a desconsiderar, nas cartas de circularização, as operações que não tivessem que ser necessariamente classificadas como dívida.
Redação final
O Itaú, segundo uma fonte, optou por manter uma frase mencionando a existência das operações e, como mostra a troca de mensagens, discutiu a redação dela com a empresa.
O Santander, também citado na apresentação à CPI, afirmou em nota que a empresa confessou em fato relevante que “as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas”. De acordo com o banco, a própria empresa mencionou que a diretoria anterior ocultou do mercado a real situação de resultado e patrimonial da companhia.
“Isso, por si só, comprova taxativamente que a única e exclusiva responsabilidade pelas ‘inconsistências contábeis’ é da Americanas, por intermédio da sua antiga diretoria.”
O Santander acrescenta que “as cartas de circularização são apenas uma entre muitas fontes de auditoria e que sempre informou integralmente todos os saldos das operações da companhia no Sistema Central de Risco, mantido pelo Banco Central, que inclusive poderia ser fonte de auditagem”, afirmou o banco.