Partido de peso após a redemocratização, o PSDB ocupou a Presidência da República entre 1995 e 2002 (com FHC), esteve no poder em estados como São Paulo e Minas Gerais, além de ter sido uma importante força atuante no Congresso, ao lado de PMDB e PT. Mas tudo isso ficou no passado.
Para o cientista político Sergio Fausto, alinhamento à direita e figuras como João Doria e Aécio Neves contribuíram para derrocada. “O partido não existe mais. Hoje é só mais uma sigla do cenário político nacional, sem a importância que já teve”, complementou o cientista político e diretor-executivo da Fundação Fernando Henrique Cardoso.
Os tucanos têm, hoje, a menor representação no Congresso de sua história, com 14 deputados federais e dois senadores. Além disso, perdeu espaço em São Paulo e Minas. “O PSDB senta à mesa, mas não tem cacife para dar as cartas”, comenta Fausto.
Para o cientista político, o alinhamento à direita do PSDB após as eleições de 2014 foi fundamental para a derrocada do partido, com destaque para atuação de Aécio Neves e João Doria.
“Essas figuras menores, tipo Doria e Aécio, jogam o jogo miúdo da política, de quem olha a política no curto prazo. Isso também faz parte do jogo. Mas os valores servem de filtro e freio. A velha geração não teria se lançado tão sofregamente à direita. Não teria existido o ‘Bolsodoria’. Porque, quando acontece o ‘Bolsodoria’, há uma tentativa de surfar a onda da direita, mas você acaba engolido por ela”, afirma.
O futuro do partido, segundo Fausto, não é promissor. “O PSDB vai tentar compor uma federação para ter mais peso no Congresso, há essa possibilidade de aliança com o Cidadania… Mas, veja, é a aliança do ‘super baixinho’ com o ‘baixinho’. Não tem expressão nenhuma”, pontua.
O cientista político não acredita que o PSDB possa voltar a representar uma alternativa programática para a política brasileira. “Há figuras políticas interessantes, como Eduardo Leite [governador do Rio Grande do Sul], Raquel Lyra [governadora de Pernambuco] e o Eduardo Riedel [governador do Mato Grosso do Sul]. Mas, hoje, o PSDB não é nem sombra do que já foi”.
História
O partido deixou de ter uma marca e se tornou uma sigla como outra qualquer. E para entender isso é preciso voltar um pouco no tempo. O PSDB surge de uma costela do PMDB, mas com uma marca própria: a confluência de políticos de expressão nacional, de um lado filiados à social-democracia, como José Serra e Fernando Henrique Cardoso, e, de outro, filiados à democracia cristã, como Franco Montoro. Eram duas famílias políticas que tinham como referência a política europeia da segunda metade do século 20, baseada no bem estar-social europeu e no ideal de democracia. Havia uma referência programática de quadros de muita densidade política.
Esse recado foi dado já nas eleições de 1989. O programa do partido combinava a social-democracia de políticas públicas universais com a ideia de que a economia precisava se modernizar, com componentes liberais. O PSDB perde a eleição, mas há uma marca programática clara e diferente do que havia no Brasil. Em 1994, o PSDB vence a eleição presidencial, ganha disputas estaduais e se torna um dos três maiores partidos no Congresso. O problema é que o crescimento quantitativo não tem tradução no crescimento qualitativo de suas lideranças. O PSDB nunca conseguiu internalizar e defender os governos do Fernando Henrique. Ali, havia uma ideia de governo, com erros e acertos.
A partir do momento em que o partido não soube defender essa agenda e viu o PT crescer, chegar ao poder, assimilar várias dessas bandeiras e estigmatizar o partido, a mensagem básica do PSDB passou a ser “nós somos contra o PT”. O PSDB foi se movendo para a direita e, num determinado momento, se descaracterizou.
Com a Lava Jato, que atingiu todos os partidos tradicionais, a sigla implodiu. Ela perdeu a característica programática dos governos FHC e, mesmo com poder estadual, já não tinha poder federal.
Para Fausto, a “retórica do ‘PT ladrão’ se desmoralizou, porque o PSDB também foi apanhado em esquemas de corrupção. O partido foi sendo comido pelas bordas pela direita, o que explica esse movimento recente de prefeitos do interior de São Paulo migrando para o PL de Jair Bolsonaro e do governo Tarcísio [de Freitas]”.