As famílias brasileiras estão ficando mais enxutas e seus domicílios têm cada vez menos membros. É o que indicam os primeiros resultados do Censo Demográfico 2022, divulgado nessa quarta-feira (28) pelo IBGE. Os domicílios brasileiros tem, na média, menos de três pessoas: hoje, são 2,79 moradores por residência. Em 2010, quando foi realizado o último Censo, eram 3,31. Trata-se da menor média registrada desde o Censo de 1980, para quando há dados disponíveis.
Desigualdade regional
Apesar da redução do número de pessoas por domicílio na média do País, uma desigualdade regional persiste quando se trata dessa densidade. No Amazonas, a média atinge 3,64 pessoas por lar. Já no Rio Grande do Sul, cai para 2,54. Na capital Porto Alegre, são apenas 2,37.
Estas são as primeiras informações que ajudam a traçar uma fotografia do Brasil depois da pandemia de covid. A pesquisa deveria ter ido a campo em 2020, mas a crise sanitária e o impasse orçamentário com o governo federal, durante a gestão de Jair Bolsonaro, atrasaram a coleta. O último Censo foi realizado em 2010 e, de lá pra cá, o instituto realizava projeções para estimar o tamanho da população brasileira.
Média de moradores
A série aponta que a média de moradores por domicílio vem caindo desde o Censo de 1980 até o mais recente, de 2022. O movimento segue uma tendência associada ao perfil das famílias: residências com casais e filhos, ou outros tipos de arranjo, têm se tornado menos frequente.
A professora universitária Lívia Maria Santiago, de 43 anos, reconhece que sua família têm ficado mais enxuta ao passar das gerações. Lívia é a caçula de dois irmãos, um com 52 e a uma de 48 anos. Na família, apenas sua irmã teve filhos. Seu irmão, casado há mais de 20 anos, optou por não seguir o caminho da paternidade.
Lívia viu sua família diminuir de tamanho: de 12 tios no seu núcleo familiar, foi para três adultos e, atualmente, duas crianças. Mesmo com a carreira consolidada, não há chances de ajudar a aumentar esse número. Ela afirma ter certeza de que não quer ser mãe.
“Hoje é uma escolha consciente (não ter filhos). Minha carreira sempre esteve no topo da lista”, afirma Lívia, que mora em um apartamento na Zona Norte do Rio, com a companhia do seu cachorro, Noel Rosa, e da gata recém-adotada, Vovó Juju.
A soteropolitana Aline Ventura, de 34 anos, é uma das pessoas que também contribuiu para a queda da média de moradores por residência no País. Há cinco meses em São Paulo, a atriz e professora de inglês deixou para trás, em Salvador, uma casa que dividia com a mãe, as irmãs e os animais de estimação. Ela diz que “adora casa cheia”, mas está feliz em agora “ser dona do seu espaço”.
Hoje, em um pequeno apartamento na região central da capital paulista, em que vive sozinha, ela conta que os planos de constituir família estão longe do radar. O foco, para ela, é buscar estabilidade financeira e crescimento profissional:
“Nunca foi um plano para mim. Eu sempre foquei muito na minha carreira, tanto como professora, quanto como atriz. Eu quero focar nisso, que é o que me realiza. Quero me estabelecer profissional e financeiramente e depois procurar novos horizontes.”
Regiões
Em que pese a redução de pessoas por residência no País, a desigualdade de densidade ainda é significativa entre as regiões. Na comparação entre Estados, enquanto no Rio Grande do Sul a média é de 2,54 pessoas por domicílio, essa média chega a 3,64 no Amazonas.
Já no recorte por capitais, Macapá (AP) registra a maior média de moradores por domicílio: chega a 3,56. No outro extremo, Porto Alegre possui média de 2,37.