“O povo da periferia precisa ser tratado com respeito para que nunca aconteça o que aconteceu com um menino que foi assassinado por um policial despreparado”. Lula disse ainda que “a gente não pode culpar a polícia, mas a gente tem que dizer que um cidadão que atira num menino que já estava caído é irresponsável e não estava preparado do ponto de vista psicológico para ser policial”. O governador Cláudio Castro, sentado junto às autoridades, presenciou a fala do presidente.
Castro não foi à tarde na cerimônia do início das obras do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e da assinatura da portaria para redução dos voos do Santos Dumont para ampliar a capacidade de passageiros no Galeão. O governador e o prefeito Eduardo Paes atuaram ativamente para que o Galeão voltasse a receber um número maior de voos.
A vítima foi morta sem esboçar qualquer reação, de acordo com relatos de moradores da Cidade de Deus e oferecer risco à ação do Batalhão de Choque da Polícia Militar, que fazia uma operação na principal via de acesso à comunidade da Cidade de Deus.
A Polícia Militar disse que houve confronto e o rapaz acabou morto. Os moradores disseram que a pistola encontrada ao lodo do corpo de Thiago foi “plantada” pelos militares para simular uma possível troca de tiros. Thiago, segundo os moradores, era uma criança pacífica, que queria se tornar jogador profissional de futebol, estudava e frequentava a igreja evangélica da comunidade junto com a família.
A diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado, Cecília Olliveira, criticou o trabalho da polícia nos territórios periféricos.
“A letalidade é efeito da falta de uma política de segurança pública focada em prevenção e inteligência. Mas é falta também de passarmos nossa história a limpo. Nós somos uma sociedade racista e a polícia é um espelho dela – só que com armas nas mãos – trabalhando dentro da lógica de uma política assumidamente racista que é a guerra às drogas”.
Cecília disse também que o ocorrido com Thiago é a prova disso. “Não é caso isolado. Não é justo que mães tenham que enterrar seus filhos, que crianças enterrem seus amigos. Não é justo que depois de tanto sofrimento ainda tenham que defender a reputação de um adolescente morto por quem deveria o proteger. A história do Rio de Janeiro é marcada por crianças e adolescentes mortos e feridos”.
Para ela, não haverá tendência de redução de violência armada no Brasil se governos e sociedade não se moverem nessa direção. “Eles não têm metas de redução da letalidade policial, não produzem dados que possam servir para o planejamento da segurança pública. Basta pensar que o Brasil não tem um banco nacional de homicídios ou um banco nacional com informações sobre armas e munições”, avaliou.
A deputada estadual Renata Souza (PSol) disse que o Estado deveria ser responsabilizado pela morte de Thiago e de outras crianças negras das favelas. Renata classificou a política pública como “racista e genocida que se perpetua em completo antagonismo em relação aos direitos humanos e às leis que deveriam garanti-los. Esse não é um cotidiano que possa ser aceito, suportado ou naturalizado por ninguém”.
Thiago estudava na 7ª série da Escola Municipal Dorcelina Gomes da Costa e jogava futebol no projeto Os Canelinhas, às terças-feiras. O adolescente se destacava no futebol e seu sonho era se tornar jogador profissional. Além disso, Thiago frequentava junto com a família uma igreja evangélica, dentro da comunidade, onde o corpo foi velado.
O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos da Defensoria Pública do Rio de Janeiro (Nudedh) está dando apoio à família de Thiago. A mãe, Priscila Menezes falou sobre a morte do filho. “Thiago era apenas um adolescente que perdeu a vida precocemente e de forma trágica. Mais uma vítima que entra para a estatística”.