02/09/2023 às 17h25min - Atualizada em 03/09/2023 às 00h37min

Aula em praça pública homenageia legado de Paulo Freire

Encontro foi organizado pelo grupo de teatro Companhia do Tijolo, que, em 2021, ano do centenário de Paulo Freire, iniciou um ciclo de atividades para celebrar o patrono da educação.

Agência Brasil
https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2023-09/aula-em-praca-publica-homenageia-legado-de-paulo-freire


Uma aula pública em São Paulo marcou o fim do ciclo de comemorações do centenário do educador Paulo Freire, promovido pelo grupo de teatro Companhia do Tijolo, e a estreia de uma nova montagem teatral sobre aprender e ensinar.



O palco, na última quarta-feira (30) de agosto, foi a Praça da República, centro da capital paulista. Ao fundo, o prédio de uma das primeiras escolas da cidade, hoje a sede da Secretaria Estadual de Educação. De um lado, a unidade móvel do Bom Prato, serviço do governo do estado, que oferece refeições a R$ 1. Do outro, as tendas da Operação Baixas Temperaturas, com cobertores para as pessoas em situação de rua enfrentarem o inverno paulistano.



No centro da praça, cercada por uma plateia acomodada em cadeiras de praia, duas mulheres com cerca de 80 anos falam sobre educação popular, religiosidade, feminismo e liberdade. Ivone Gebara e Maria Valéria Rezende são freiras da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora e trazem uma experiência de religiosidade e educação que foge a qualquer estereótipo.



O encontro foi organizado pelo grupo de teatro Companhia do Tijolo, que, em 2021, ano do centenário de Paulo Freire, iniciou um ciclo de atividades para celebrar o patrono da educação. A aula das duas religiosas, que são também educadoras, pensadoras e escritoras, encerrou esse ciclo. Karen Menatti, atriz e integrante da companhia, explica porque Ivone e Maria Valéria foram as protagonistas do ato.



“A Ivone conviveu muitos anos com Dom Helder [Câmara], em Recife, e a Maria Valéria com o professor Paulo Freire, quando ele fazia seus projetos de alfabetização de adultos, ela é educadora popular também. A gente queria ouvir o que elas tinham para falar em relação à educação popular, mas também pelo viés da palavra escrita, da palavra falada, das histórias de vida delas que, afinal de contas, é o nosso pensamento também da Companhia do Tijolo, que é aprender a partir do nosso chão, e do chão do outro que está do lado”, explicou Karen Menatti.



O encontro também foi a abertura de uma nova etapa. Em setembro, a companhia estreia uma peça nova: o Vôo da Guará Vermelha, baseada no livro homônimo de Valéria. O livro conta a história de Rosálio e Irene. Ele, um pedreiro que anda pelo Brasil com uma caixa de livros, que não consegue ler porque é analfabeto. Ela, uma prostituta com Aids, que sabe ler e escrever. Quem conta mais sobre os sentidos desse encontro é a própria Valéria.



“Ele conta histórias pra ela, e ela tem vontade de viver mais um dia para ver a continuação da história e ensina ele a escrever. É uma espécie de Mil e Uma Noites ao contrário. É a educação, mas uma forma de educação que não é a escolaridade tradicional, que supõe que a cabeça do outro é vazia”, relata a escritora.



Ela destaca que esta é uma percepção da educação como troca de saberes. “Que é sempre mútua, de inspiração freiriana. [Uma história que] Toca as pessoas que têm interesse na transformação social, na justiça social, que têm uma esperança que o Brasil seja mais justo”, acrescenta.



Ivone também é educadora, mas o foco dela é filosofia e teologia e propõe uma leitura bíblica baseada na ética e contra as opressões. “Para mostrar o quanto as crenças religiosas também precisam ser retrabalhadas, porque podem tanto fortalecer os impérios opressores quanto a liberdade necessária para a vida.”



Para ela, a aula no meio da praça foi uma experiência nova. “Eu não sei o que captaram, mas pra mim foi interessantíssimo poder falar de educação numa praça pública. É de uma originalidade incrível, me remete aos tempos em que a gente tinha mais segurança de falar nas praças públicas e de discutir coisas políticas.”



Desempregado, Paulo Henrique deixou a fila do restaurante popular para assistir à aula. “Eu acho que toca na questão muito crucial para o Brasil, não só o Brasil, que é a questão da religião. Se Jesus voltasse hoje, eles matariam Jesus de novo. E esse tipo de coisa parece que é um consenso coletivo de uma resistência”, avaliou.




Fonte: https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2023-09/aula-em-praca-publica-homenageia-legado-de-paulo-freire
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