O oratório pertence à Igreja da Venerável e Arquiepiscopal Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, na Rua do Carmo, número 38, no centro da cidade. Um texto de 1979, assinado pelo arquiteto Augusto Silva Teles, aponta, a partir de escritos históricos, que o oratório é o último exemplar de devoção católica em área pública na cidade do Rio de Janeiro.
A relíquia da arte sacra colonial tem estrutura em alvenaria e pedra, com fachadas para dois lados, ricamente decorada com ornatos em massa, azulejos raros holandeses e alemães brancos e azuis e cantaria, que são blocos de rocha talhados. O oratório está assentado sobre um arco de pedra sobre a porta para uma servidão, como é chamada a passagem entre a antiga Catedral e a Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, que ligava a Rua Primeiro de Março com a Rua do Carmo. Atualmente, a servidão é fechada com portões nas duas extremidades, sendo de uso exclusivo das duas igrejas.
No alto do oratório tem uma cruz e embaixo dela tem uma redoma onde fica a imagem da Nossa Senhora. A base é toda ornamentada com azulejos. “Em Ouro Preto, Minas Gerais, tem muitas igrejinhas com oratórios em esquinas. Você vai passando pela cidade olhando para cima e encontra vários desses oratórios”, comentou Yanara.
A restauração começou no dia 10 de julho de 2023, após passar 60 dias de prospecções diagnósticas e aprovação do projeto de intervenção submetido ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro (Inepac) e ao Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH).
“Todas as prospecções, inclusive as laboratoriais, nós levamos 60 dias e estamos levando 60 dias para fazer o restauro. Encontramos nessa estrutura muitas partes em cimento, a estrutura originariamente é feita com tijolos maciços e totalmente revestida com argamassas de cal. O que encontrei foram muitas argamassas de cimento no lugar onde a cal já não existia. Fizemos toda a remoção, inclusive de ornatos”, relatou.
Yanara Costa Haas, da empresa Restauro Carioca, está à frente da equipe, que conta ainda com George Schliaticas, na consultoria em restauração; Geraldo Filizola, na consultoria em estruturas históricas; Clara de Freitas, restauradora chefe responsável pelas obras; os restauradores Leandro Fosse e Alex Yoshikawa; e o restaurador ajudante Júlio César Olímpio. “O nosso objetivo junto ao proprietário é resgatar o espaço que estava há 20 anos envolto em um andaime para pesquisas dos sistemas construtivo e de ornamentação”, revelou, acrescentando que, neste período, a imagem da santa ficou guardada dentro da igreja.
A arquiteta responsável atuou, por mais de 30 anos, como conservadora do Iphan e, nos últimos 11 anos, coordena a área de arquitetura do Sítio Roberto Burle Marx. Ela já trabalhou no restauro dos elementos pétreos do Palácio Itamaraty, no centro do Rio; na restauração da escultura em mármore carrara Meteoro do lago externo no Itamaraty, em Brasília; e na restauração do prédio da Agência Central dos Correios, na área central da capital fluminense.
Segundo ela, Pedro Álvares Cabral transmitiu a devoção católica que tinha por Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança ao chegar ao Brasil. “Essa devoção faz parte então de ter se criado um oratório para uma Nossa Senhora do Cabo da Boa Esperança. Os estudos históricos dizem que Cabral foi a primeira pessoa a trazer para o Brasil a devoção à imagem da Nossa Senhora”, completou.
A arquiteta destacou que o oratório não estava em risco de desabamento. “Ele estava íntegro, tinha uma fissura na cobertura, porque a cobertura em si abriu por conta do material que estava lá. Agora a gente já fechou e fez a remoção de toda a argamassa espúria e um trabalho desde o tijolo com uma argamassa nova nas mesmas técnicas originais”, afirmou Yanara.
Durante os últimos 20 anos, o Oratório da Nossa Senhora da Boa Esperança ficou protegido por tela e um andaime suspenso para acesso à fachada da Rua do Carmo.