Pesquisa realizada pela Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) aponta que a inadimplência entre os consumidores do Rio Grande do Sul apresentou leve recuo em outubro na categoria de pessoas físicas. O indicador aponta 30,5% dos gaúchos adultos com restrição em crédito, cheques e protestos (redução de 0,13 ponto percentual). Já no que se refere a Porto Alegre, o nível ficou em 33,5% (0,16 ponto percentual a menos).
Apesar da redução, a entidade ressalta que os patamares permanecem altos, especialmente se comparados ao mesmo período de 2022. Existem quase 2,6 milhões de gaúchos e 348,8 mil porto-alegrenses negativados, contingentes respectivamente menores em 11,05 mil e 1,67 mil em relação aos números verificados em setembro.
Já a inadimplência das pessoas jurídicas somou 14,4% no Estado e 15,57% na Capital. Ambos os índices voltaram a quebrar os recordes da série histórica iniciada em junho do ano passado, a partir dos aumentos de +0,08 e +0,07 ponto percentual, respectivamente, em paralelo ao mês anterior.
Se utilizadas as estatísticas do Mapa das Empresas, o total estimado de CNPJs com negativação em termos absolutos alcançou 207.848 no Rio Grande do Sul e 36.512 e Porto Alegre.
A Assessoria Econômica da CDL avalia que boa parte da queda no indicador para pessoas físicas se deve à nova etapa do programa “Desenrola Brasil”, criado pelo governo federal. Conforme levantamento do Ministério da Fazenda, o processo de renegociação da “Faixa” 1 abrangeu mais de 1 milhão de débitos em todo o território nacional entre 9 de outubro e 2 de novembro, beneficiando cerca de 590 mil CPFs. Ao montante em atraso (R$ 2,1 bilhões) foram concedidos descontos que totalizam R$ 1,8 bilhão – a iniciativa abrange um valor atualizado de R$ 262 milhões.
Perspectivas
O economista-chefe da CDL de Porto Alegre, Oscar Frank, explica que os juros apresentam influência fundamental para a dinâmica da inadimplência. Recentemente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não só reduziu a Taxa Selic em 0,5 ponto percentual (12,75% para 12,25%) ao ano, como sinalizou que o ritmo do corte deve continuar nas próximas reuniões do colegiado. Caso se confirme a previsão, ao menos duas quedas adicionais de 0,5 ponto percentual até janeiro.
“Entendemos que a Selic fechará o ano que vem em 10%, acima do consenso entre os analistas de mercado do relatório ‘Focus’ do Banco Central”, analisa. De um lado, os riscos fiscais se exacerbaram, incluindo a dificuldade da União em angariar fontes-extras de receita e a possível flexibilização da meta para as contas públicas. Por outro, as incertezas relativas ao cenário externo aumentaram, em virtude da alta dos rendimentos dos títulos da dívida norte-americana e de componentes geopolíticos como a guerra entre Israel e Hamas.”
O economista ressalta, ainda, que os dados da entidade não capturaram o impacto completo das baixas anteriores da taxa básica de juros: “Exercícios empíricos demonstram que o efeito pleno de mudanças na política monetária sobre a inadimplência ocorre entre nove e 12 meses à frente. Como o ciclo de diminuição dos juros começou em agosto, as consequências serão observadas em sua integralidade apenas em meados de 2024”.
A CDL POA crê que a tendência de alta é consistente com a desaceleração da atividade observada nos segmentos menos cíclicos da economia gaúcha, como a indústria de transformação, o comércio ampliado e os serviços. Frank acrescenta:
“Se considerarmos a métrica em 12 meses para dois recortes no tempo (dezembro de 2022 e agosto de 2023) dos levantamentos setoriais do IBGE, é possível verificar que o primeiro passou de 1,1% para -3,5%. Já o segundo diminuiu de 3,7% para 3,4%, enquanto o terceiro caiu de 11,3% para 7,5%. Além disso, o custo do crédito permanece bastante elevado, apesar das quedas recentes. Vale lembrar que os efeitos de mudanças na Selic ocorrem com defasagem sobre variáveis como a inadimplência”.
(Marcello Campos)
Créditos do texto/imagem: Jornal O Sul